or Célia Froufe
Brasília, 09/10/2023 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem reforçado em seus discursos fora do País o que almeja politicamente ao comandar o G20 a partir de dezembro. Os objetivos na área econômica, entretanto, são ambiciosos e contam com um risco significativo de pouco saírem do lugar. Conforme apurou o Broadcast, a proposta de reforma em instituições multilaterais passa pela recomendação de que bancos de desenvolvimento comecem a emprestar mais na moeda do tomador, ficando eles com o risco cambial da operação. Aperto na regulação de criptoativos e uma varredura nos fundos sustentáveis também estão na mira da equipe econômica.
Já na trilha comandada pela diplomacia, a missão é sair do discurso e mostrar aos participantes de fora o avanço do País na transição energética já realizada no Brasil. Por isso, a escolha de Foz do Iguaçu como um dos locais de reunião foi feita a dedo. É nessa cidade do Paraná que está instalada a Usina Hidrelétrica de Itaipu.
Para evitar problemas de organização vistos na edição indiana, o Brasil tem pressa em acelerar os trabalhos. Fontes informaram que, logo após o período de recuperação de uma cirurgia no quadril no final do mês passado, Lula pretende convocar a primeira reunião da comissão nacional do grupo, formada pelos ministros participantes e com a presença dos embaixadores dos países do G20 que atuam no Brasil. O encontro deve ocorrer ainda este mês ou, no máximo, no início de novembro.
Tido como um diferencial na edição doméstica, por determinação do chefe do Executivo, a sociedade civil ganhará mais peso na presidência em relação às edições anteriores. Já se fala, inclusive, na possibilidade da realização de um evento com grupos de engajamento paralelo à reunião de cúpula de líderes, prevista para novembro, no Rio.
Em termos globais, o Broadcast apurou durante a participação do Summit, em Nova Délhi, que os países ricos estão tensos com a sequência de nações emergentes no comando do grupo justamente num momento em que a China tem ampliado sua influência sobre países em desenvolvimento. Depois da Índia, o Brasil sediará o evento no ano que vem, e será seguido pela África do Sul. No ano passado, foi a vez da Indonésia ser a anfitriã.
Internamente, é preciso lembrar que o G20 ocorrerá num ano de eleições municipais e isso, junto com a pressão dos ministros que têm atividades no evento, foi fonte de pressão para a escolha das cidades onde ocorrerão os eventos. Apesar do momento político, leis domésticas impedem que se veja em território nacional a estratégia do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, pelas ruas do país ao longo dos últimos meses.
Em termos operacionais, um dos momentos mais tensos do G20 em todas as edições, principalmente nas últimas, é a confecção de comunicados. Tanto que, na Índia, houve apenas - e com muito custo - o documento formulado na cúpula, sem os tradicionais textos das reuniões ministeriais. Para tentar obter sucesso no Brasil, o governo vai propor que esse trabalho de conclusão das discussões seja mais enxuto, com cada segmento se debruçando puramente sobre suas áreas de atuação e sem abordar assuntos mais macro, como a guerra da Ucrânia, por exemplo.
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