Política
11/09/2020 11:17

Em busca de apoio para reeleição, Alcolumbre intensifica acenos ao governo


Por Daniel Weterman

Brasília, 10/09/2020 - Em busca de apoio para a tentativa de reeleição no comando do Congresso em 2021, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), tem intensificado os acenos ao governo Jair Bolsonaro. Oficialmente, interlocutores do Palácio do Planalto negam interferência na disputa. Governistas, porém, têm se aproximado de Alcolumbre na articulação.

Alcolumbre tenta aval do Supremo Tribunal Federal (STF) para a reeleição e teve conversas reservadas com ministros da corte. Além disso, articulou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para permitir a recondução em 2021 - medida que depende da aprovação de deputados e senadores. A estratégia beneficia também o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que nega ser candidato.

Durante a pandemia de covid-19, Alcolumbre ficou com o controle absoluto da pauta nas sessões remotas e fez movimentos para agradar o governo na agenda do Legislativo. Eleito para o comando do Senado em 2019 apadrinhado pelo ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni (DEM), na época à frente da Casa Civil, Alcolumbre é apontado como um "bombeiro" na relação entre os parlamentares e Bolsonaro.

O presidente do Senado tem adiado há um mês a análise dos vetos mais polêmicos de Bolsonaro pendentes de votação, entre eles desoneração da folha salarial, o novo marco do saneamento básico e o pacote anticrime. Na prática, a estratégia evita novas derrotas para o governo e dá mais tempo para o Planalto negociar. "Fica parecendo que o Congresso é um puxadinho do Palácio do Planalto", criticou o líder do PSL no Senado, Major Olimpio (SP). Procurado, o presidente do Senado não quis se manifestar.

Alcolumbre também facilitou a vida do governo na pauta de votações de projetos de lei. Em maio, puxou para si a relatoria do socorro financeiros a Estados e municípios em maio e desenhou uma proposta em acordo com o Executivo, contrariando uma versão da Câmara que tinha resistência da equipe econômica. Agora, deve fazer o mesmo na elaboração do novo pacto federativo, em tramitação no Senado.

"O Davi sempre foi muito próximo do governo, ele não está fazendo essa aproximação agora", afirmou o senador Marcos Rogério (DEM-RR), governista e aliado de Alcolumbre. Rogério afastou a interferência do presidente da República na disputa pela sucessão do Congresso. "Bolsonaro, desde o começo, estabeleceu uma distinção entre a Presidência da República e o Parlamento. Não é agora que ele vai inverter a postura."

Coube também ao amapaense definir o relator do Orçamento do próximo ano. A proposta que estabelece a quantidade de recursos para cada pasta do governo federal e o alcance das emendas parlamentares será relatada pelo senador Marcio Bittar (MDB-AC), aliado de primeira hora de Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes. Bittar também é o relator do pacto federativo no Senado e já deu sinais de que vai costurar uma proposta conforme o Planalto definir.

"O governo não quer interferir no Congresso, De qualquer forma, como o Davi tem sido realmente um parceiro, o governo não tem nada contra (a reeleição)", disse o senador Chico Rodrigues (DEM-RR), vice líder do governo no Senado. "O Davi tem servido muitas vezes como um algodão entre os cristais."

A liberação de um recurso extra de R$ 34 bilhões para Estados e municípios no combate à covid-19 foi outro movimento que recebeu a digital de Alcolumbre. Apesar de ser recurso federal e não estar oficialmente vinculado a emendas indicadas pelos parlamentares no Orçamento, o pagamento acabou recebendo a "paternidade" de senadores na hora da liberação, conforme o Broadcast/Estadão publicou.

Contato: daniel.weterman@estadao.com
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