Política
18/06/2018 08:33

Há material para mais 5 anos de operações, diz ex-diretor da PF Leandro Daiello


São Paulo, 18/06/2018 - Nos seis anos e 10 meses em que chefiou a Polícia Federal, o gaúcho Leandro Daiello Coimbra comandou as mais espetaculares operações de combate à corrupção, entre elas a Lava Jato. Desde a semana passada, Daiello é associado do escritório Warde Advogados, especializado em fusão e aquisição de empresas. No novo emprego, o delegado aposentado espera continuar combatendo a corrupção, agora do outro lado do balcão. Em entrevista ao Broadcast Político, a primeira desde que se aposentou, em novembro, ele afirma que o material apreendido pela PF sob seu comando é suficiente para mais “quatro ou cinco anos” de grandes operações. “Esse negócio não vai parar”.

Segundo ele, as operações não devem parar porque quando deixou o comando da PF, o que tinha de papel e dados digitais na polícia era suficiente para quatro ou cinco anos de operações. "Não tem outro jeito. Você vai na empresa e acha uma sala inteirinha com papéis, aí começa a cruzar e vem a operação. Quando eu saí tínhamos um projeto de modernização e informatização para novos focos. O sistema Atlas tem uma capacidade de processamento absurda. O que um policial demorava sete, oito dias para fazer ele faz em um minuto. Demora mais para imprimir do que para processar."

Na entrevista ele disse que a polícia nunca focou em setor, focou no dinheiro. "Quem usou a lavanderia vai aparecer. Porque o doleiro não é mais o tradicional que vendia dólar no paralelo, a cotação até saía no jornal. O doleiro hoje é uma lavanderia. Você paga para receber o dinheiro limpo. Fizemos uma avaliação lá atrás e ficou claro que os sistemas de controle de atividade financeira melhoraram muito - Coaf, Bacen, Polícia Federal. Se você mexer no sistema bancário ou financeiro, começa a disparar alarmes. Aí você precisa achar outro mercado de lavanderia. Isso é uma boa notícia para o Brasil. O foco das operações iniciais nunca foi a Petrobras. Eram os doleiros."

Na sua avaliação, o setor público está fazendo o dever de casa e a preocupação é o privado. E destaca: "A empresa tem de fazer a escolha. Ela tem de pensar em como quer ser vista no futuro e no risco, né? É uma perspectiva de combater a corrupção no privado. A empresa que entrar em confronto com o aparato de combate à corrupção terá dificuldade para sobreviver." E complementa que o Brasil não fez o dever para atacar as causas, que seria a reforma política. "Nunca autorizei ninguém a entrar na discussão sobre reforma política porque não competia à PF dizer que a reforma é uma estratégia de combate à corrupção. Se não tiver a reforma política a máquina vai continuar gerando (corrupção). Da maneira que a política é jogada hoje, não sobrevive, não. A fábrica de corrupção está aberta. A doação eleitoral não é ideológica, é estratégica."

Daiello rebateu, na entrevista, o argumento de setores que acusam a PF de cometer arbitrariedades na Lava Jato. "O que torna a polícia isenta é o fato de ser legalista. Não há outro caminho. Não tem que interpretar lei. Se o Congresso mudar a lei e disser, por exemplo, que a maconha não é mais crime, ela deve sair do radar da polícia. Tudo tem manual, tudo tem regras. Segui-las obriga os integrantes de qualquer instituição a agir com isenção, mesmo que tenham suas tendências e preferências pessoais."(Ricardo Galhardo e Fausto Macedo)
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