Agronegócios
16/03/2022 08:55

Fertilizantes: se embarque da Rússia for interrompido, substituir todo esse volume é grande desafio


Por Leticia Pakulski

São Paulo, 16/03/2022 - Uma ruptura no fornecimento de fertilizantes por parte da Rússia traria grande dificuldade na substituição da oferta, disse Carlos Heredia, consultor de negócios em suprimentos e fertilizantes, em webinar realizado ontem (15). "Primeiro, não sabemos se vai ter realmente uma ruptura, se vamos ficar sem o embarque da Rússia. Não existindo embarque da Rússia, a capacidade de a curto prazo substituir todo o volume é um desafio muito grande", afirmou. "Já vivemos um sistema um tanto estressado de oferta e demanda." Heredia assinalou que o Canadá tem minas de potássio fechadas, mas ponderou que o prazo para reabri-las não é "de uma semana nem de um mês".

O consultor reforçou que o Brasil tem em torno de três meses de estoque de fertilizantes e que os fluxos de importação não foram interrompidos. Para Heredia, o fundamental é ter os adubos a tempo de plantar a próxima safra de verão. "O importante é que a gente tenha uma solução em que se tenha um casamento entre o fornecimento dos fertilizantes e a demanda que existe no mercado."

Para Valter Casarin, coordenador científico da Nutrientes pela Vida, as reservas de fertilizantes no País são da ordem de 3 a 5 meses. "Continuam chegando fertilizantes. Em fevereiro chegou fertilizante da própria Rússia no Brasil", afirmou no mesmo evento. "Esse abastecimento do Brasil pode até ser um pouquinho além de cinco meses. Muitos grupos produtores no Brasil têm já fertilizante comprado para a próxima safra." Casarin destacou ainda que a agricultura brasileira é tecnificada, e os produtores têm reservas no solo. "Chovendo regularmente, não tenho dúvida de que o Brasil quebra novo recorde de produção. Temos gordura boa para queimar até que tudo isso se normalize."

Estímulo - A crise entre Rússia e Ucrânia e seu efeito sobre fertilizantes é um "estímulo" para o Brasil "explorar melhor as reservas disponíveis", disse Heitor Cantarela, membro do Conselho do Nutrientes pela Vida e pesquisador do Instituto Agronômico (IAC), se referindo ao Plano Nacional de Fertilizantes, anunciado na semana passada. "O problema de autossuficiência do Brasil é antigo. Outros planos aconteceram e não foram felizes", disse. "Nós não vamos nos tornar autossuficientes; o plano não prevê isso e sim redução das importações, mas se tivermos uma maior produção local obviamente o País fica menos sensível a esses ciclos de crise." No curto prazo, contudo, o plano "vai ajudar muito pouco ou talvez até nada".

Para Casarin, é preciso criar incentivos para empresas explorarem minas no País. "O que tivemos em governos passados é que estávamos taxando o que era produzido aqui, mas não os produtos importados, então tirava o interesse das empresas de explorar minas ou abrir usinas de produção de ureia. Temos que mudar algumas coisas internamente para incentivar que a gente consiga com sucesso atingir os objetivos que o plano traçou."

Contato: leticia.pakulski@estadao.com
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