Agronegócios
17/07/2017 10:25

Perspectiva: clima nos Estados Unidos continua no radar do mercado de grãos


São Paulo, 17/07/2017 - Investidores do mercado futuro de soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago (CBOT) permanecem atentos ao clima nos Estados Unidos neste começo de semana. Após forte volatilidade nas últimas sessões, as atualizações nos mapas meteorológicos ainda são os principais fatores a direcionar os preços. A evolução das condições das lavouras nos EUA segue no radar, com a divulgação do relatório de acompanhamento de safra hoje após o fechamento do mercado. A demanda por grãos norte-americanos também deve ser monitorada, com a aceleração de compras de alguns importadores após fortes quedas das cotações e em meio à continuidade da incerteza sobre o clima nos EUA.

A soja fechou em alta na sexta-feira após duas quedas consecutivas. O vencimento novembro subiu 14 cents (1,42%) e fechou a US$ 10,0150/bushel na sexta-feira. Na semana, o contrato caiu 1,38%. Segundo o analista Matheus Gomes Pereira, da AgResource Brasil (ARC Brasil), a alta foi influenciada pela mudança nos mapas climáticos, já que as previsões de sexta-feira eram bem menos favoráveis do que as divulgadas no dia anterior. "Depois do susto na quinta-feira, com os mapas climáticos colocando uma pressão gigantesca no mercado, hoje (sexta-feira) os mapas voltaram a trazer o padrão de clima que vinha sendo previsto e que foi observado na primeira quinzena de julho. E voltaram a ser adicionados prêmios climáticos na soja", disse. O comportamento do clima no fim de semana e as atualizações de mapas serão determinantes para o movimento dos preços nos próximos dias. Com a mudança brusca nos mapas de quinta para sexta-feira, predominou a incerteza sobre o que de fato acontecerá com o clima de agora em diante, e especuladores recompraram posições, mas não de forma tão agressiva como venderam no dia anterior. A perspectiva é de que o mercado volte a movimentar grandes volumes nesta segunda-feira acompanhando a evolução das previsões meteorológicas. "Na quinta-feira, os mapas trouxeram mais chuvas e uma esfriada nas temperaturas. Na sexta-feira, voltaram a mostrar menos chuvas e temperaturas mais altas", destacou Pereira.

Para a atualização da situação das lavouras pelo USDA nesta segunda-feira, o analista acredita que a proporção de lavouras de soja e milho em situação boa a excelente pode desde ficar estável até cair entre 1 ponto e 3 pontos porcentuais. A consultoria visitou plantações do cinturão no começo da semana passada e observou que as condições variavam bastante de área para área. "A gente anda um pouco, vê um talhão muito bom de soja, outro muito bom de milho, aí anda mais um pouco e vê sinais de estresse hídrico e a soja e o milho não se desenvolvendo bem", disse o analista. A demanda também segue no radar. Após um volume grande adquirido pela China na sexta-feira, nesta segunda-feira a Associação Nacional dos Processadores de Oleaginosas (Nopa) divulga os dados de consumo de soja para esmagamento dentro dos EUA às 13h de Brasília. O esmagamento de soja no país deve ter diminuído em junho na comparação com o mês anterior, de acordo com analistas consultados pelo The Wall Street Journal. A média das estimativas aponta para o processamento de 143 milhões de bushels (3,89 milhões de toneladas) no mês passado, ante 149,25 milhões de bushels (4,06 milhões de toneladas) em maio.

O milho fechou em alta na sexta-feira na CBOT. Investidores recompraram contratos após o grão acumular queda de 8% somente nas duas sessões anteriores. As perdas dos dias anteriores foram motivadas por projeções do governo dos EUA de que os estoques domésticos de milho serão maiores do que o mercado esperava. Além disso, uma breve melhora nas previsões do tempo levou traders a abandonar apostas de que as condições quentes e secas limitariam o rendimento de milho nos EUA nesta temporada. Mas na sexta-feira as previsões mostraram condições de desenvolvimento desfavoráveis persistindo em alguns lugares durante o fim de semana. A previsão era de que o tempo quente retornaria ao norte das Grandes Planícies na sexta-feira e ao cinturão de milho central no início desta semana, causando estresse às lavouras de milho do extremo noroeste do cinturão, que não tiveram muita chuva na semana passada, disse Dave Marshall, consultor de comercialização agrícola da corretora First Choice Commodities, à Dow Jones Newswires. O vencimento setembro subiu 6,50 cents (1,76%) e fechou em US$ 3,7625 por bushel na sexta-feira. Na semana, o contrato acumulou queda de 4,14%. Traders também mantinham uma postura cautelosa em relação à situação das lavouras de milho na semana em que provavelmente o maior porcentual da safra de milho estará em polinização, fase importante para definir a produtividade do cereal.

O trigo fechou em baixa pela terceira sessão consecutiva na sexta-feira na CBOT. O clima no norte das Grandes Planícies dos EUA continua quente e seco. Entretanto, as estimativas divulgadas pelo USDA na semana passada fizeram o mercado devolver parte dos fortes ganhos acumulados recentemente. A previsão do USDA para a safra doméstica de trigo foi reduzida, mas o número veio acima da expectativa do mercado. O governo dos EUA estimou a produção total do país em 1,760 bilhão de bushels (47,9 milhões de toneladas), de 1,824 bilhão de bushels (49,65 milhões de t) na previsão de junho. Analistas esperavam uma redução maior, para 1,746 bilhão de bushels (47,5 milhões de t). A projeção para a safra de trigo de primavera também ficou acima da expectativa, em 422,9 milhões de bushels (11,5 milhões de t), enquanto o mercado previa 414 milhões de bushels (11,27 milhões de t). Em 2016/17, a colheita foi de 534 milhões de bushels (14,5 milhões de t). Na CBOT, o trigo para setembro cedeu 1,00 cent (0,20%) e fechou em US$ 5,1075 por bushel na sexta-feira. Na semana, a queda foi de 4,53%. Contudo, a colheita de trigo de primavera deste ano segue ameaçada por uma seca nas Planícies do norte. Agora, alguns analistas dizem que os problemas estão se estendendo até as Pradarias canadenses, outra fonte importante de trigo de primavera. "O clima quente e seco se estende para o Canadá e pode prejudicar o potencial de rendimento lá também", disse Jack Scoville, vice-presidente da corretora Price Futures Group, à Dow Jones Newswires.

Café: contratos sobem 3,7% na semana
Os contratos futuros de café arábica acumularam valorização de cerca de 3,7% na semana passada na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), base setembro de 2017. Os contratos de arábica subiram 480 pontos no período em Nova York. As cotações encerraram na sexta-feira (7), a 133,70 centavos de dólar por libra-peso. No período, os contratos marcaram máxima de 134,05 cents (sexta, dia 14) e mínima de 125,80 cents (terça, dia 11).

O Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos (SP), destaca em boletim semanal que vários fatos contribuíram para a alta. "O mais visível foi a queda acentuada do dólar frente ao real no decorrer da semana, principalmente quinta e sexta-feira". A aprovação da reforma trabalhista pelo Senado Federal e a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva impulsionaram o movimento positivo que os mercados financeiros já apresentavam desde a segunda-feira.

Os embarques brasileiros caíram dois anos seguidos, a safra 2016/17 terminou em junho passado. "Mesmo para chegar a esses embarques significativamente menores, o Brasil teve de lançar mão do que restava dos estoques governamentais de café, zerados pela primeira vez em nossa longa história de maiores exportadores de café do mundo", ressalta.

Os estoques privados de café no fim de junho último também devem estar entre os menores de nossa história, observa Carvalhaes. Para a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), no fim de março último os estoques privados brasileiros eram de 9,86 milhões de sacas.

As exportações brasileiras de abril, maio e junho somaram 6,86 milhões de sacas e, nesse mesmo período, o consumo interno - adotando dado conservador de 20 milhões de sacas por ano (a Abic estima aproximadamente 21 milhões) - chegou a 4,8 milhões de sacas. Portanto, em três meses, desapareceram aproximadamente 11,66 milhões de sacas frente a um estoque privado no fim de março de 9,86 milhões. "Essa diferença de 1,8 milhão de sacas pode ser explicada em parte pelo uso dos primeiros lotes da nova safra, em processo de colheita, e também por um número de estoque no fim de março subestimado pelos avaliadores da Conab", explica.

Na prática, o País também está sem estoques privados de café e daqui para frente contará apenas com os cafés de cada safra e a atual é de ciclo baixo. "Esses números começaram a levar as grandes indústrias mundiais a rever suas estratégias e já se nota um início de estreitamento nos deságios em relação às cotações em Nova York", conclui Carvalhaes.

Açúcar: mercado em NY tenta sustentar ganhos
Os contratos futuros de açúcar demerara iniciam a semana na tentativa de continuar recuperação na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), em meio à forte volatilidade. Na segunda-feira passada (10), o vencimento outubro/17 registrou queda de cerca de 4%, seguida de alta de 4,8% na quinta-feira (13). No acumulado dos últimos sete dias, o contrato para outubro/17 subiu cerca de 1% (15 pontos), encerrando na sexta-feira a 14,30 centavos de dólar por libra-peso.

Na segunda-feira passada, os futuros de demerara despencaram em grande parte por causa do governo da Índia, que elevou a taxa de importação para o alimento, de 40% para 50%. A medida seria uma forma de combater o que os produtores locais classificaram como uma importação indesejada, diante do atual cenário de elevados os estoques internos.

Na quinta, porém, o mercado em Nova York deu um grande salto, de 4,8%. Entre outros fatores, o mercado foi impulsionado pelo anúncio da Petrobras de reajuste nos preços da gasolina, o que tende a incentivar a demanda por etanol e motivar um mix de produção menor para o açúcar. Além disso, o contrato foi sustentado pela recuperação dos preços do petróleo, que ajuda a elevar o preço de commodities energéticas.

O dólar também tem influenciado o comportamento dos contratos de açúcar. Na sexta-feira passada, a queda da moeda norte-americana favorecia a commodity. O dólar chegou a tocar mínima de R$ 3,18. Segundo corretores, o mercado avalia que a força de Michel Temer (a Comissão de Constituição e Justiça rejeitou, por 40 votos a 25, o parecer favorável à denúncia por corrupção passiva contra Temer) pode ser maior do que se calculava.

(Leticia Pakulski e Tomas Okuda - leticia.pakulski@estadao.com e tomas.okuda@estadao.com)
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