Agronegócios
06/08/2018 10:28

Perspectiva: clima nos EUA e guerra comercial continuam no radar do mercado de grãos


São Paulo, 06/08/2018 - Investidores dos mercados futuros de soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago (CBOT) começam a semana com as atenções voltadas para a evolução da guerra comercial entre Estados Unidos e China e para o clima em pontos de cultivo norte-americanos e em outras áreas produtoras importantes. Traders também devem se preparar para o relatório mensal de oferta e demanda que o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) divulgará no fim desta semana.

Na sexta-feira, os futuros de soja fecharam em alta. Traders aproveitaram os preços mais baixos da commodity para recomprar contratos após o mercado ter acumulado perda de 2,3% nas duas sessões anteriores, mesmo com o aumento das tensões comerciais entre Estados Unidos e China. O vencimento novembro subiu 4,75 cents (0,53%), para US$ 9,0225 por bushel. Na semana, a soja acumulou alta de 1,92%. O país asiático anunciou que pretende impor tarifas que variam de 5% a 25% sobre US$ 60 bilhões em produtos norte-americanos. O anúncio foi uma resposta a declarações do governo do presidente Donald Trump de que os EUA podem elevar de 10% para 25% a tarifa que pretendem aplicar sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses. "Finalizamos mais uma semana sem resolução para o conflito comercial que vem se arrastando há meses. Acredita-se que essa guerra só será resolvida com uma mudança de retórica por parte dos norte-americanos, já que a postura agressiva e protecionista dos Estados Unidos não atrai os chineses para a mesa de negociações", disse a corretora Labhoro, em comentário semanal. Para o analista Matheus Gomes Pereira, da ARC Mercosul, declarações negativas dos dois lados sobre a guerra comercial têm efeito momentâneo sobre os preços, porque a continuidade da disputa entre os dois países já está de certa forma embutida nas cotações. "Mas qualquer indicação de que Trump tenha encaminhado tentativa de acordo comercial com a China tem espaço para ser especulada", apontou.

A menor demanda da China pela soja dos EUA em 2018/19 já é o cenário esperado a menos que os dois países consigam chegar a um consenso. "O USDA já trouxe uma redução na estimativa de exportação dos EUA para 2018/19 contabilizando a falta de interesse chinês na soja norte-americana", disse Pereira. Na quinta-feira, as vendas semanais dos EUA para as duas safras, 2017/18 e 2018/19, vieram no piso das estimativas de analistas e trouxeram novo cancelamento por parte da China, de 120 mil toneladas de soja norte-americana.

Com relação ao clima nos EUA, os níveis atuais de umidade do solo ainda são adequados, mas a previsão para as próximas duas semanas é de que uma massa de ar quente de alta pressão eleve as temperaturas e torne as chuvas irregulares no cinturão produtor, segundo o analista. Na avaliação dele, o USDA pode trazer, já no relatório de acompanhamento de safra que divulga hoje, após o fechamento do mercado, uma redução na proporção de lavouras em condições boas a excelentes de soja e milho, uma vez que as temperaturas ficaram um pouco acima da média na semana passada, com chuvas esparsas nas áreas produtoras dos EUA.

Na sexta-feira (10), o USDA divulga o seu relatório de oferta e demanda de julho. Em relatório, a Labhoro apontou expectativa de aumento da produtividade dos EUA e dos estoques finais da safra 2018/19 norte-americana. A corretora chamou a atenção para os números de rendimento divulgados pelas consultorias privadas na semana passada. Na quinta-feira, a INTL FCStone projetou a produtividade da soja norte-americana em 51,5 bushels por acre, e, na sexta-feira, a Informa Economics estimou 50 bushels por acre, ante 48,5 bushels por acre previstos pelo USDA em julho.

Quanto ao milho, os futuros terminaram em alta na sexta-feira na CBOT. O vencimento dezembro do grão subiu 3,00 cents (0,79%) e terminou em US$ 3,8425 por bushel. Na semana, o ganho foi de 2,13%. Segundo o USDA, exportadores relataram vendas de 130 mil toneladas de milho de origem opcional para o Vietnã, com entrega prevista para o ano comercial 2018/19. Contratos de origem opcional permitem que a commodity tenha origem nos EUA ou em outros países exportadores. Na quinta-feira, o USDA disse que exportadores venderam 292 mil toneladas de milho da safra 2017/18 na semana encerrada em 26 de julho. Para a safra 2018/19, foram vendidas 986.100 toneladas. A soma das duas safras, de 1,278 milhão de toneladas, veio mais próxima do teto das projeções de analistas consultados pela Dow Jones Newswires, de 1,35 milhão de toneladas. A perspectiva de estoques globais mais apertados deu suporte às cotações - de acordo com nota da AgResource, a relação estoque-uso do milho a nível mundial está no menor patamar histórico. Ainda assim, consultorias privadas têm estimado rendimento do milho nos EUA na safra 2018/19 acima dos 174 bushels por acre previstos pelo USDA em julho.

O trigo negociado na CBOT terminou em baixa na sexta-feira. Traders embolsaram lucros após o mercado ter subido nas quatro sessões anteriores e acumulado ganho de 5,7% no período. Apesar da queda, os preços do grão continuam no maior nível em três anos, com condições desfavoráveis na União Europeia, na região do Mar Negro e na Austrália. Isso deve reduzir a oferta global e pode resultar em aumento das exportações norte-americanas. A expectativa de oferta mais apertada vem se refletindo nos preços pagos pelo Egito, um dos maiores importadores de trigo, em licitações internacionais para compra do grão. Na sexta-feira, traders disseram que o país comprou 240 mil toneladas de trigo russo e romeno em seu leilão mais recente, por um preço médio de US$ 237,49 por tonelada, sem incluir custos de frete. O valor representa aumento de 8% ante os US$ 219,80 pagos no leilão anterior. Na CBOT, o trigo para setembro recuou 4,25 cents (0,76%) e terminou em US$ 5,5625 por bushel. O ganho semanal foi de 4,85%.

Café: contratos caem 2,4% na semana
Os contratos futuros de café arábica apresentaram desvalorização de cerca de 2,4% (270 pontos) na semana passada na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), base setembro de 2018. As cotações encerraram na sexta-feira (3), a 107,75 centavos de dólar por libra-peso. No período, os contratos marcaram máxima de 113,40 cents (segunda, dia 30) e mínima de 106 cents (quinta, dia 2).

O Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos (SP), destaca em boletim semanal que, apesar de o dólar recuar em relação ao real, os contratos de café tiveram uma semana negativa na ICE Futures US, em Nova York.

Conforme Carvalhaes, a chegada de chuvas, moderadas e irregulares, em diversas regiões produtoras de café do Sudeste brasileiro, abrandou a preocupação do mercado com a forte seca dos últimos meses. Essas chuvas e a notícia que o Vietnã, maior produtor de robusta do mundo, em razão do clima bom que favoreceu o desenvolvimento das plantas pode ter na próxima temporada uma safra recorde, ao redor de 30 milhões de sacas, reforçaram o "mantra" diário dos operadores internacionais a respeito da safra recorde brasileira, pressionaram as cotações, contribuindo para mais uma semana com poucos negócios fechados no mercado físico brasileiro.

Com baixo nível das ofertas, os cafeicultores se retraíram ainda mais e até na zona da mata, onde os negócios vinham ocorrendo em maior volume, foi difícil encontrar vendedores, diz Carvalhaes.

A corretora comenta, ainda, sobre o forte e rápido crescimento da produção brasileira de cafés Especiais, ao mesmo tempo, crescem as reclamações com a queda dos prêmios pagos pelo mercado para cafés com certificações socioambientais como Rainforest Alliance, UTZ, Fair Trade, Orgânico, Certifica Minas, Nespresso e 4C. "Aos poucos algumas dessas certificações passaram a ser mais um custo para o cafeicultor ao invés de um fator de agregação de valor", lamenta Carvalhaes.

Açúcar: mercado deve tentar retomar nível de 11 cents
O mercado futuro do açúcar demerara na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) tenta na sessão de hoje fechar acima da resistência de 11 cents por libra-peso no contrato outubro. Após movimentos técnicos trazerem duas altas consecutivas, agosto começa com alta acumulada de 2,9%, mas 2018 acumula perdas de 28,7%.

Na sexta-feira (3), fundos e especuladores saíram às compras e resistências em 10,77 cents e em 10,80 cents foram rompidas. Os negócios avançaram até 11,05 cents, mas vendas e realizações puxaram o contrato para baixo até o fechamento em 10,85 cents, alta de 26 pontos ou 2,46%.

Analistas e operadores avaliam como positivo o fechamento do mercado acima das duas resistências anteriores, sinal de que os futuros da commodity estão baratos para compras de oportunidade. As altas, entretanto, seguem limitadas tecnicamente por fixações de origem.

Fundos de investimento e especuladores aumentaram o saldo líquido vendido em açúcar em Nova York, mostrou relatório da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês) com posicionamento de traders. Na semana encerrada em 31 de julho, fundos e especuladores estavam com saldo vendido de 134.179 lotes, em comparação com 99.141 lotes no dia 24 de julho.

(Leticia Pakulski, Tomas Okuda e Gustavo Porto - leticia.pakulski@estadao.com, tomas.okuda@estadao.com e gustavo.porto@estadao.com)
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