Agronegócios
22/12/2021 10:24

Vegro vê ciclo de baixo preço para café já contratado e diz que produtor deve investir agora


Por Tomas Okuda

São Paulo, 22/12/2021 - As cotações do café estão nos níveis mais altos em dez anos, sustentadas pela esperada menor oferta brasileira em 2022, em decorrência de adversidades climáticas, como estiagem e geadas sobre os cafezais. O aumento dos preços do produto, no entanto, é motivo de preocupação, já que tende a estimular o plantio, melhorando a oferta, mas derrubando os preços no médio e longo prazos, diz o agrônomo e diretor do Instituto de Economia Agrícola (IEA), Celso Luís Vegro. Sobre isso é taxativo: "A queda das cotações do café já está contratada", afirma. "O café é uma cultura cíclica cujos picos podem ser amplificados pelo clima adverso. Mas o ciclo de baixa já está contratado e deve ocorrer provavelmente a partir de 2026."

Os futuros de café arábica na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) subiram cerca de 70% desde o início do ano e perto de 83% nos últimos 12 meses. Além do clima adverso no País, a alta dos preços pode ser atribuída também a outros fatores, como furacão em países da América Central e excesso de chuvas no Vietnã e na Colômbia, dois dos maiores produtores mundiais de café, atrás apenas do Brasil. Para complicar, com a retomada econômica, exportadores têm alegado falta de contêineres para o transporte marítimo do café das origens para os portos de países consumidores.

Nesse sentido, o agrônomo ponderou que a magnitude do ciclo de baixa dependerá de uma conjunção de fatores. Um ponto importante, igualmente imprevisível como o clima, é o comportamento do consumidor. O café é considerado pelos economistas um produto inelástico, ou seja, o consumidor não deixa de comprar, mesmo com aumento de preço. Não é, porém, o que está se observando nos últimos meses no Brasil.

Nos atuais níveis de preço, o consumidor começa a indagar sobre a real necessidade de se tomar a bebida. O diretor do IEA citou recente pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), que mostrou que o consumo brasileiro da bebida caiu 14% em outubro, em virtude do aumento de 40% nos preços nas gôndolas dos supermercados. A associação estima mais 35% de elevação ao consumidor até janeiro.

Outro fator que pode interferir no balanço entre oferta e demanda nos próximos anos é o dilema vivido por produtores, que observam culturas anuais serem mais rentáveis do que o café. Plantado hoje, o pé de café vai dar a primeira carga daqui 3 a 4 anos. Culturas anuais, como soja e milho, têm alcançado elevada rentabilidade, não exigem mão de obra intensiva, existem diversos instrumentos de comercialização, entre outras vantagens. "Vale a pena aumentar a área ou renovar cafezais? Tem se questionado o produtor", explicou Vegro.

Aparentemente, não chega a ser uma corrida ao plantio de outra cultura, já que a área total com café no Brasil tem se mantido em cerca de 2,2 milhões de hectares nos últimos anos. No entanto, o processo de substituição é observado, em particular em áreas de relevo pouco acidentado, próprias para o cultivo de grãos, como o Cerrado Mineiro. Mantida a condição de alta rentabilidade de culturas anuais, "o café tende a se concentrar em áreas de montanha, numa agricultura familiar, transformando o Brasil numa imensa 'Centro-América' chamada Cafés do Brasil", cogitou Vegro.

Para aqueles que insistem no cultivo do produto, mas que são precavidos sobre o futuro de 'vacas magras', a saída tem sido investir agora na propriedade, enquanto a época é de 'vacas gordas'. "Tem de aplicar em produtividade e qualidade, reduzir a dependência de insumos químicos, praticar o conceito de agricultura regenerativa", detalhou o agrônomo.

Ajudaria também políticas oficiais de fortalecimento do mercado interno, segundo Vegro. "O crescimento do País é errático, decorrente de administrações sem rumo e incapazes de produzir um mercado interno robusto", sentenciou.
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