Agronegócios
23/04/2018 10:01

Perspectiva: mercado de grãos deve concentrar atenção no plantio nos EUA


São Paulo, 23/04/2018 - Investidores dos mercados futuros de soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago (CBOT) devem direcionar suas atenções para o clima em regiões de cultivo norte-americanas, com reflexos sobre o plantio de milho, soja e trigo de primavera e desenvolvimento do trigo de inverno. O mercado acompanha ainda os desdobramentos da guerra comercial entre Estados Unidos e China, assim como os reflexos disso sobre a demanda por grãos norte-americanos. O desempenho do dólar ante as principais moedas também segue no radar do mercado.

A soja recuou pelo terceiro dia seguido na sexta-feira, pressionada pelas previsões de temperaturas mais altas nas áreas produtoras norte-americanas, que permitiriam a evolução dos trabalhos de campo após um começo de temporada excessivamente frio. O vencimento julho recuou 8,75 cents (0,83%) e fechou a US$ 10,4025/bushel. A queda na semana foi de 2,32%. As preocupações com o clima nos EUA diminuíram no fim da semana passada. Segundo o Commodity Weather Group, as condições mais de acordo com a primavera no Meio-Oeste, com um pouco mais de calor, devem permitir que agricultores dos EUA compensem o lento progresso inicial do plantio, e isso pesou sobre as cotações da soja. "Foi um movimento especulativo de retirada do prêmio climático que tinha sido adicionado na safra norte-americana", disse o analista Matheus Gomes Pereira, da ARC Mercosul, ressaltando a preocupação nas últimas semanas de que seria um começo de safra conturbado nos EUA. "Teve pouco progresso no plantio de milho durante abril. Só que o principal mês para plantio da safra tanto de milho quanto de soja norte-americanos é maio." Para maio, as previsões do tempo nos EUA são mais favoráveis, segundo o analista. "Há uma retração das chuvas no cinturão agrícola juntamente com a volta de temperaturas mais altas", disse.

A guerra comercial entre EUA e China e seus efeitos sobre a demanda por soja norte-americana também direcionam os preços. Pereira ressaltou não há nada por ora que indique que a tarifa de importação imposta pela China à soja dos EUA será concretizada, mas o temor persiste. Pereira destacou que as vendas externas dos EUA da atual temporada na semana passada foram recordes para o período, somando mais de 1 milhão de toneladas. "É muito além do usual para esta época do ano", disse o analista. Ele afirmou que a China continua adquirindo cargas dos EUA mas há novas compras de outros importadores. "A China segue com foco de compra bastante acentuado no Brasil, deixando grande parte das importações de soja dos EUA para os europeus, que viram uma oportunidade na compra da soja norte-americana, que estava mais barata." Entretanto, se de fato as tarifas chinesas forem implementadas, é difícil dizer que o mercado norte-americano não será afetado, segundo Pereira. "Hoje, por ser um momento de especulação, onde não há nada concretizado de que a tarifa será de fato implementada, chineses continuam de olho nas ofertas norte-americanas. Mas, se houver a tarifa de importação, é um empecilho para novas compras e, sem dúvida, as exportações norte-americanas seriam prejudicadas", apontou.

Com relação ao milho, os futuros fecharam em queda na sexta-feira em Chicago, também pressionados pelo clima mais favorável no Meio-Oeste dos Estados Unidos. Em cinco sessões da semana passada, o cereal registrou ganhos apenas na quarta-feira (18). Eram esperadas condições mais típicas de primavera no último fim de semana, que poderiam propiciar uma redução no atraso do plantio. As chuvas e as baixas temperaturas na região vêm prejudicando os trabalhos nas últimas semanas. O milho também foi influenciado pelo desempenho do trigo e pela alta do dólar no mercado internacional. Outra questão observada pelo mercado são sinalizações de demanda mais fraca pelo cereal. Na semana encerrada em 12 de abril, exportadores dos EUA venderam 1,2 milhão de toneladas do cereal e superaram a expectativa de analistas, mas desde a última quinta-feira não são relatadas vendas expressivas. Na sexta-feira, o vencimento julho do milho perdeu 5,50 cents (1,41%) e terminou em US$ 3,8550 por bushel. O recuo na semana foi de 2,28%.

Os futuros de trigo negociados na CBOT fecharam em queda expressiva na sexta-feira, com a melhora do clima no sul das Grandes Planícies dos Estados Unidos. A empresa de meteorologia DTN previa chuvas significativas na região, onde é cultivada boa parte da safra de trigo de inverno do país. Segundo a DTN, as precipitações podem melhorar a condição das lavouras, que é bastante ruim por causa do clima seco nos últimos meses. Até o último domingo, 37% da safra de inverno dos EUA apresentava condição ruim ou muito ruim, em comparação a apenas 13% um ano antes. Além disso, 31% tinha condição boa ou excelente. Na época correspondente do ano passado, essa parcela era bem maior, de 54%. Na CBOT, o trigo para julho caiu 13,50 cents (2,75%), para US$ 4,7725 por bushel. O trigo caiu 2,45%.

Café: contratos caem 1,5% na semana
Os contratos futuros de café arábica apresentaram desvalorização de cerca de 1,5% (queda de 180 pontos) na semana passada na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), base julho de 2018. As cotações encerraram na sexta-feira (20), a 117,70 centavos de dólar por libra-peso. No período, os contratos marcaram máxima de 121,10 cents (sexta, dia 13) e mínima de 115,30 cents (terça, dia 17).

O Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos (SP), destaca em seu boletim semanal que na semana passada o mercado físico brasileiro continuou na mesma toada das últimas semanas, com compradores e vendedores insatisfeitos com o andamento dos negócios. Os compradores reclamam da dificuldade de se encontrar lotes no volume e qualidade que necessitam e os vendedores mostram bastante preocupação com a base de preços oferecida. "Negócios são fechados todos os dias, principalmente quando NY está em alta ou o real com perdas em relação ao dólar, mas sempre em volume menor do que os compradores necessitam", ressalta.

Conforme Carvalhaes, o Brasil está na entressafra de uma safra de ciclo baixo, com estoques governamentais zerados e o volume que ainda resta em mãos da iniciativa privada deverá ser usado no consumo interno e nas exportações, nestes últimos três meses (abril, maio e junho) do ano-safra brasileiro 2017/2018. "Mesmo com exportações abaixo da média dos últimos anos, deverão desaparecer nesses próximos três meses (abril, maio e junho) aproximadamente 12,6 milhões de sacas. Chega-se a esse total considerando um consumo mensal de 1,7 milhão a 1,8 milhão de sacas e exportações mensais ao redor de 2,5 milhões de sacas."

Não se pode esquecer que, como todos os anos, o consumo interno já deverá utilizar alguns lotes de conilon da nova safra 2018/2019 em suas ligas de maio e junho. Em contrapartida, é impossível completar os embarques de julho, agosto e setembro, já no novo ano-safra, sem o concurso de lotes da atual safra 2017/2018. "Registramos esse balanço para lembrar que na entrada da nova safra restará muito pouco café da atual safra brasileira 2017/2018. Esses números, aliados ao baixo preço oferecido aos cafeicultores, explicam a dificuldade dos compradores em adquirir lotes de café no volume que precisam", conclui Carvalhaes.

Açúcar: mercado deve continuar enfraquecido
O mercado futuro do açúcar demerara na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) se mantém enfraquecido pela pressão de oferta e pela aposta alta de fundos e especuladores em novas baixas da commodity. Na sexta-feira, o contrato julho, mais negociado na ICE, testou a resistência de 12 cents por libra-peso, mas não suportou fixações pontuais e a alta do dólar. O papel fechou em 11,87 cents, queda de 0,67%, ou 8 pontos. O suporte está em 11,63 cents e a resistência seguinte, acima dos 12 cents, em 12,22 cents.

Com uma oferta de até 31 milhões de toneladas da safra 2017/2018 (até setembro) e um excedente de 5 milhões a 6 milhões de toneladas, a Índia deve subsidiar exportações para tentar desovar esse volume. Na semana passada o estado de Maharashtra, o maior produtor, confirmou planos de subsídios de até US$ 75 por tonelada, o que pode apenas aliviar o cenário complexo para exportadores locais. "A Índia tem um problema de superprodução de açúcar que não vai ser resolvido dando mais dinheiro para tentar exportar o excesso. Isso só vai sustentar o problema", relatou Michael McDougall, da ED&F MAN Capital Markets.

Para o sócio da consultoria Canaplan, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, "a realidade global, não só da Índia, é de excedentes" de açúcar, e uma possível saída para a retomada de um ciclo de alta no adoçante pode ser a alta do petróleo e a mudança de posições de fundos entre as duas commodities. "Um movimento de fundos começando a trocar petróleo, em que estão muito comprados, por açúcar, muito vendidos, pode trazer uma virada no mercado", disse Carvalho.

(Leticia Pakulski, Tomas Okuda e Gustavo Porto - leticia.pakulski@estadao.com, tomas.okuda@estadao.com e gustavo.porto@estadao.com)
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