Por Célia Froufe
Brasília, 26/10/2021 - O Brasil mudou sua posição em relação às negociações sobre o mercado mandatório de carbono, que será discutido por 194 países do mundo a partir do mês que vem, em Glasgow (Escócia), durante a Conferência do Clima (COP26). A observação foi feita há pouco pelo chefe global de estratégia de commodities do Citi, Ed Morse, durante teleconferência “Global Carbon Markets - Solving the Emissions Crisis Before Time Runs Out”, realizada neste momento pelo banco.
O Brasil deve levar uma de suas maiores delegações para o evento na Escócia e o governo tem enfatizado o desejo de discutir com os demais países para chegar a um acordo sobre a construção de um mercado internacional. Na COP anterior, realizada em Madri e que contou com a participação do então ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, o Brasil foi apontado como um dos obstáculos a que se chegasse a um consenso sobre o tema.
Durante a teleconferência, Morse comentou que o Brasil tem uma das florestas mais importantes do planeta e conta não apenas com o risco de seu desmatamento, mas também de outros riscos ligados à diminuição da área verde. Ele salientou que o mercado informal tem crescido e que já estão em atuação pelo menos três agências verificadores de padrões de práticas sustentáveis. “Quando olhamos o mercado voluntário, ele tem crescido”, observou, acrescentando, porém, que há ainda um longo caminho a percorrer na formação de preços. “O viés muda, dependendo de como você olha para o problema, mas há boas razões para estar otimista, principalmente com a questão financeira”, previu.
No mesmo evento, o professor de inovação e políticas públicas na Escola de Política e Estratégia Global da UC San Diego, David Victor, também mostrou uma perspectiva positiva sobre se chegar a parâmetros únicos na formatação de um mercado de carbono global. “Muitas pessoas acreditam no artigo 6º do Acordo de Paris, então acredito que se vá chegar a um consenso”, avaliou, lembrando que, apesar do fracasso da COP anterior sobre o assunto houve continuidade das discussões no âmbito diplomático desde então.
Mais do que a construção de um mercado formal, o professor se disse muito entusiasmado com as conversas paralelas que ocorrem à formatação dessa nova plataforma de trocas. Para ele, para além das negociações que poderão ser feitas entre empresas e governos, há também discussões mais avançadas sobre cooperação e colaboração entre os agentes. Victor salientou que a formação de preço é um ponto muito importante nessas discussões, mas que não deve ser o único a ser monitorado.
O professor destacou ainda que a questão sobre o uso de gás e seu futuro ainda é um ponto cego das discussões e que atividades como essa podem mudar a política e o apoio dos consumidores, e que o mundo está em transformação nesse sentido. “Tem que mudar indústria por indústria, iniciativa por iniciativa”, indicou.
Os especialistas falaram durante o painel "Beyond Gridlock on Global Warming: Preview to COP26".
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