Economia & Mercados
04/06/2020 10:59

Bolsa acima de 90 mil anima e pode abrir espaço para revisão na faixa de 100 mil pts


Por Maria Regina Silva

São Paulo, 04/06/2020 - Nem bem junho começou e o Ibovespa já acumula valorização (4,17%) acima dos ganhos de 4,06% de todo o mês de junho de 2019. Depois de ter furado a resistência dos 88 mil pontos na segunda-feira, ontem o índice Bovespa voltou aos 91 mil pontos, diante da perspectiva de retomada da economia mundial e do alívio temporário na tensão política interna. A superação desses níveis, conforme especialistas, deve incitar o debate de revisão de cenários para a Bolsa brasileira em 2020, para acima dos 100 mil pontos, sobretudo se romper a próxima marca estimada por grafistas, de 92.300 pontos.

Para Marcel Zambello, analista de research da Necton Investimentos, a retomada de vários países após a fase de isolamento social para conter o espalhamento do novo coronavírus é o principal fator por trás da expectativa de avanço do mercado acionário do Brasil. "Até mesmo por aqui sentimos certa confiança na retomada das empresas. Pode abrir espaço para revisões no preço-alvo do Ibovespa", diz. Por enquanto, a Necton estima o índice fechando o ano aos 95 mil pontos.

Zambello pondera que apesar da expectativa geral do setor empresarial de um desempenho "horroroso" da atividade pior no segundo trimestre, já que captará o efeito maior da paralisação da economia por conta da quarenta, o quarto trimestre deve ser de "normalização". Neste sentido, acredita que além da aceleração recente da Bolsa, não se pode desconsiderar o tradicional rali de fim de ano. "Pode até permitir uma pontuação na faixa de 100 mil pontos", afirma. A última vez que o índice alcançou essa marca foi em 102.230,50 pontos, em março deste ano.

A despeito de admitir que no momento atual está complicado cravar uma projeção, William Teixeira, head e especialista em ações da Messem Investimentos, não descarta o Ibovespa variando entre 105 mil e 110 mil pontos no fim de 2020. "Mas o cenário muda muito, e muito rápido", observa.

A confiança de Teixeira também vem do processo de retomada das economia, que tem dado sinais alentadores. Em sua avaliação, o mercado tem ciência de que esse ciclo levará tempo, mas países importantes estão implementando novos pacotes de socorro, o que reforça o otimismo, pois indica que a recuperação tende a acelerar.

Para o diretor da CM Capital Markets, Fernando Barroso, a reação dos mercados atualmente pode ser semelhante à verificada em 2008, quando os bancos centrais sustentaram políticas expansionistas por longo tempo.

Na opinião de Barroso, o movimento na B3 reflete o excesso de liquidez no mundo. "Há muito recurso injetado pelos bancos centrais mundiais e juros reais negativos em grande parte dos países da zona do euro, EUA e dos emergentes. Isso alavanca preço de ativos reais", admitindo ter sido pego de "surpresa" com a aceleração forte do Ibovespa nesta terça-feira.

De acordo com o especialista da Messem, muitos ativos do Ibovespa que têm participação relevante na carteira ainda estão "atrasados" em relação ao índice em si, sem terem recuperado totalmente ou pelo menos boa parte das perdas durante a fase da pandemia. Neste caso, também, vê espaço para aceleração do Ibovespa. Teixeira enumera as ações do setor financeiro e ligadas ao segmento de commodities, caso de Petrobras.

Além da reabertura de importantes economias na Ásia, Europa e EUA, a taxa Selic em nível histórico de baixa também tem atraído recursos para a Bolsa brasileira. "Com o juro nesta faixa de 3%, o mercado de ações parece ser a única - e boa - opção de investimento, ainda que os fundamentos estejam horrorosos", diz, ao referir-se ao cenário político, que ainda requer cuidado e acompanhamento, e ao quadro comercial envolvendo EUA e China, que vira e mexe estão adotando medidas restritivas que podem retardar a recuperação mundial.

Contato: reginam.silva@estadao.com
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