Economia & Mercados
24/09/2019 11:54

Associação de aéreas rebate críticas e reafirma compromisso com redução de pegada de carbono


Por Letícia Fucuchima

São Paulo, 24/09/2019 - Representando quase 290 companhias aéreas, a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês) mostrou preocupação com o discurso emergente contra as viagens aéreas como forma de combater o aquecimento global. "Voar não é o inimigo. O inimigo é o carbono, e estamos comprometidos com a redução da pegada de carbono da nossa indústria", reiterou Alexandre de Juniac, diretor geral e CEO da entidade, em coletiva de imprensa nesta manhã.

O setor começou a trabalhar na redução das emissões de carbono em 2008, lembrou de Juniac. Há três anos, em um novo esforço, as aéreas, empresas de infraestrutura aeroportuária e navegação e fabricantes de aeronaves assinaram a Compensação de Carbono e Plano de Redução para a Aviação Internacional (Corsia, na sigla em inglês), idealizada pela Organização Internacional da Aviação Civil (ICAO, na sigla em inglês), braço da ONU. Nesse acordo global, a indústria se comprometeu a estabilizar suas emissões de carbono a partir de 2020. Até 2050, a meta é cortar as emissões a metade dos níveis alcançados em 2005.

A Iata reconhece que os objetivos de longo prazo do Corsia são "ambiciosos", ainda mais considerando o crescimento do tráfego aéreo mundial previsto para os próximos anos. "Mas não descobrimos esse problema (das emissões de carbono) na última semana", destacou, quando questionado sobre as recentes críticas direcionadas ao setor.

A crise climática tem motivado protestos em centenas de cidades pelo mundo. No embalo da mobilização, ativistas ambientais, cientistas e mesmo pessoas comuns têm buscado limitar suas viagens aéreas, ou até abandoná-las completamente, sob o discurso de que a medida restringe os impactos da aviação sobre as mudanças climáticas. A jovem ativista Greta Thunberg, por exemplo, já chegou a defender a troca dos voos por viagens mais ambientalmente "sustentáveis".

Segundo Alexandre de Juniac, os dez anos de esforços da indústria aérea para reduzir sua pegada de carbono já produziram resultados "encorajadores". "Já estamos acima da meta com a qual nos comprometemos para o período", afirmou nesta manhã.

Conforme a Iata, foi acordado entre os membros do ICAO que o acordo Corsia seria a "única medida econômica global" para alcançar a meta de crescimento neutro de CO2 pela indústria. Nesse sentido, as aéreas entendem que o pacto pode ser prejudicado por medidas governamentais de "precificação" do carbono. "Eles são lançados como 'impostos ecológicos', mas ainda precisamos ver esses recursos sendo realmente alocados na redução do carbono", sustenta de Juniac. "Os governos precisam se concentrar em tornar esse compromisso um sucesso", acrescenta.

A França foi um dos países que anunciaram taxas sobre passagens aéreas para financiar alternativas "amigáveis" ao meio ambiente. O país europeu divulgou em junho a "ecotaxa", que custará entre 1,50 euro e 18 euros e será aplicada a partir de 2020 à maioria dos voos decolando da França. À época, a Iata criticou a cobrança, classificando-a de "mal orientada". "Impostos nacionais não farão nada para ajudar a indústria de aviação nos seus esforços de sustentabilidade", disse a entidade na ocasião, advertindo que a cobrança poderia prejudicar a indústria de aviação francesa e ameaçar postos de trabalho.

Para as aéreas, um elemento-chave para garantir a redução efetiva das emissões de carbono é o desenvolvimento de combustíveis sustentáveis. O diretor geral da Iata reforça que a adoção mais expressiva desses combustíveis pela indústria não enfrenta mais empecilhos "técnicos", mas sim "econômicos". Por isso, ele pediu que os governos ajudem a promover as alternativas sustentáveis, encorajando a produção e distribuição desse tipo de combustível.

Em outras frentes de trabalho para reduzir sua pegada de carbono, a indústria de aviação defende melhorias de infraestrutura, sobretudo da gestão do tráfego aéreo, e o desenvolvimento de aeronaves comerciais mais eficientes, como modelos elétricos ou híbridos.

Contato: leticia.fucuchima@estadao.com
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