Economia & Mercados
04/11/2021 08:44

Em jogo: Itaú aperta os parafusos e avança no digital, mas qualidade de ativos pode preocupar


Retransmitimos nota publicada ontem às 21h25

Por Matheus Piovesana e Altamiro Silva Junior

São Paulo, 03/11/2021 - Nada de lucro, rentabilidade ou margem financeira: o primeiro parágrafo dos comentários da administração do Itaú Unibanco no balanço do terceiro trimestre foi dedicado aos avanços no mundo digital. Não é por acaso. O maior banco da América Latina está, neste 2021, apertando todos os parafusos - e soltando alguns - para avançar casas na meta de gerar 50% das receitas do banco de varejo através do digital em 2025. Os dados mostram que o Itaú está crescendo rápido nessa frente e em outras, sem descuidar do lucro. Mas a qualidade dos ativos é um ponto de atenção.

Tudo e nada. O iti, banco digital do Itaú, conquistou nada menos que 2,2 milhões de novos clientes no trimestre, e chegou aos 10 milhões. Segundo o banco, 85% dos "novatos" do iti, que "não exige nada" para a clientela "ir com tudo", como ressaltam as propagandas em horário nobre da TV aberta, não são correntistas do Itaú. Um sinal positivo, dado que o iti é uma aposta do banco para atrair jovens, que torcem o nariz para o sistema bancário do País. Entretanto, indicadores como o custo para atender a cada um desses 10 milhões de clientes não foram abertos.

Grandonas. A taxa de inadimplência de pessoa física e de pequenas e médias empresas ficou estável no terceiro trimestre ante o segundo período de 2021, considerando os atrasos acima de 90 dias. A piora do indicador foi concentrada nas grandes empresas, onde os atrasos subiram de 0,3% em junho para 1,1% em setembro. O banco informa que o salto foi "devido à rolagem de clientes específicos, que já estavam adequadamente provisionados", mas analistas podem querer saber do risco de que esse movimento se espalhe para mais companhias e também na pessoa física, agora que o cenário econômico começa a se deteriorar. O próprio Itaú passou a prever recessão no Brasil em 2022.

Dois dígitos. A carteira de crédito do Itaú se aproxima de R$ 1 trilhão, mas um número que pode não agradar aos analistas foi o salto de dois dígitos na despesa de provisão para créditos de liquidação duvidosa, chamada de PDD. Se na comparação com o mesmo período de 2020 houve queda de 12,8%, ante o segundo trimestre de 2021 o indicador, um termômetro da preocupação do banco com calotes, registrou alta de 14,3%. Por enquanto, o CFO do banco, Alexsandro Broedel, afirma que os momentos mais críticos de 2020 ficaram para trás, e que o Itaú está pronto para o que der e vier.

Sem IPOs. A desaceleração das aberturas de capital (IPOs, na sigla em inglês) observada no fim do terceiro trimestre já afetou as receitas do banco, no caso do Itaú BBA, com a assessoria econômico-financeira. Na comparação com o segundo trimestre de 2021, caíram 30%. A reta final do ano tem sido desafiadora para o mercado de capitais e pode provocar mais queda nessa fonte de ganhos. Não se esperam mais IPOs este ano, que foram todos adiados para o começo de 2022, por conta da piora do mercado, e mesmo na renda fixa houve perda de fôlego. Já as fusões e aquisições (M&A, em inglês) seguem mais aquecidas e podem ajudar a compensar parte da perda de faturamento do banco de atacado.

Contato: matheus.piovesana@estadao.com e altamiro.junior@estadao.com
Para ver esta notícia sem o delay assine o Broadcast+ e veja todos os conteúdos em tempo real.

Copyright © 2024 - Todos os direitos reservados para o Grupo Estado.

As notícias e cotações deste site possuem delay de 15 minutos.
Termos de uso