Economia & Mercados
20/04/2022 12:00

Especial: PicPay, Bitz e Iti disputam carteira do consumidor com estratégias diferentes


Por Matheus Piovesana

São Paulo, 19/04/2022 - A inflexão do mercado de carteiras digitais acontece sob um contexto curioso. Dominado por fintechs e players não tradicionais, como o PicPay, da J&F, o setor assiste ao avanço de iniciativas de grandes bancos, que têm milhões de clientes, mas ainda estão distantes dos líderes. Em comum, todos têm o desafio de manter clientes fiéis mesmo sob o impacto do Pix e das flexibilizações da pandemia que levaram o consumidor de volta às transações presenciais.

PicPay - de longe o líder, com 65 milhões de clientes -, Bitz e Iti, de Bradesco e Itaú, têm abordagens diferentes para o desafio. O mais velho dos três, o PicPay começou a diversificar sua oferta para um marketplace de produtos financeiros em parceria com instituições financeiras. Bitz e Iti, por sua vez, servem-se das prateleiras de seus controladores, mas empacotam as soluções para um público distante dos grandes bancos.

A diversificação é necessária porque o Pix democratizou as transferências instantâneas e gratuitas, antes o maior atrativo das carteiras. A funcionalidade ainda existe nos aplicativos, mas tornou-se uma forma de atrair clientes para um tabuleiro mais amplo e rentável.

"Somos uma empresa movida a resultados e também a engajamento. Uma vez que você tenha um engajamento em produtos que são rentáveis, é um ciclo virtuoso de sustentabilidade da própria empresa", diz Frederico Trevisan, head do marketplace financeiro do PicPay, que reúne produtos como os empréstimos pessoais e os empréstimos entre pessoas, e é a aposta da companhia para fazer com que o cliente resolva toda a sua vida financeira ali dentro.

As parcerias são o acelerador da corrida. O PicPay Card, por exemplo, é emitido com o Original, banco digital da J&F. Os empréstimos são concedidos através de parcerias com nomes com BV, Creditas e Digio. No primeiro bimestre deste ano, o PicPay originou R$ 293,9 milhões em empréstimos pessoais e a carteira total ultrapassou R$ 1 bilhão.

Grandes bancos
Nos grandes bancos, a parceria acontece entre empresas do conglomerado. "O Bitz traz clientes para o Bradesco. Dos nossos clientes, 86% não são clientes do banco", afirmou Curt Zimmermann, CEO da carteira digital, que tem 4,1 milhões de clientes. A oferta é vista como complementar: para produtos mais simples, a carteira atrai o cliente com mais eficiência que o banco, que exige muito mais documentos para abrir uma conta, por exemplo.

"Eu não imagino, na carteira digital, alguém fazendo planos de previdência de longa duração ou um financiamento imobiliário, que são contratos longos", diz Zimmermman. "Para essa transação do dia a dia, de pagar e receber, a carteira digital é muito prática." Um dos passos do Bitz para ampliar a oferta é criar um cartão de crédito, complementar ao cartão de débito já oferecido.

No Iti, a percepção é parecida. Para isso, o banco digital usa da experiência do Itaú para oferecer produtos financeiros a um público que não está no Itaú. "Pegamos o expertise e trabalhamos a experiência para que ela seja competitiva no mercado, contemporânea", diz João Araújo, diretor do Iti. "Parte dos produtos aproveita a expertise e outra parte consumimos diretamente da prateleira do Itaú."

O Iti foi lançado em 2019 como carteira digital, mas expandiu a oferta para um banco digital completo e teve um grande salto de usuários no ano passado. Hoje, são 15 milhões. "Por um lado, o quadro regulatório nos fez ajustar a nossa estratégia inicial, além de nos colocar a favor do vento. Por outro lado, o cliente demandava funcionalidades além de uma carteira", afirma Araújo.

Questão de necessidade

O consultor Boanerges Ramos Freire, presidente da consultoria Boanerges & Cia, afirma que a corrida das carteiras digitais para crescer além das transferências de dinheiro é uma consequência da evolução dos pagamentos, independentemente do Pix.

"O Pix é só uma evidência: meio de pagamento é ótimo para conhecer cliente, mas é um serviço básico e que, ao longo do tempo, tende a gerar resultados bem próximos de zero, ou pouco negativos, porque não é um negócio em si, sozinho", diz ele.

Segundo ele, o fato de os bancos tradicionais escolherem marcas diferentes, com ampla independência dentro dos conglomerados, é uma forma de ganhar tempo em um setor cada vez mais competitivo. "Em um banco tradicional, os processos tendem a ser mais lentos. No Itaú, há o caminho tradicional do Itaú. O caminho do Iti é diferente, os sistemas foram formados a partir de novos conceitos", comenta.

No Bitz, além da independência formal, a separação foi física: a carteira digital saiu da Cidade de Deus, a tradicional sede do Bradesco em Osasco, e se instalou no Habitat, espaço de inovação do banco que fica na Zona Oeste da capital paulista.

Crédito como atrativo
Enquanto isso, o PicPay aposta no porte da operação para continuar na liderança. "Ganhamos a experiência de atuar em uma base bem ampla de crédito, então conseguimos fornecer crédito para uma parte da população que até então estava desatendida. Esses produtos são portas de entrada interessantes", diz Trevisan, do PicPay.

Contato: matheus.piovesana@estadao.com
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