Economia & Mercados
15/03/2022 09:03

Especial: Fed subirá juro em 0,25 pp e destacará que prioridade é combate à inflação alta


Por Ricardo Leopoldo

São Paulo, 15/03/2022 - Pela primeira vez desde 2018, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) deverá subir os juros em 0,25 ponto porcentual na reunião de março, devido à inflação excessivamente elevada e ao mercado de trabalho próximo ao pleno emprego nos Estados Unidos. Além do difícil quadro de reduzida oferta internacional de manufaturados, provocada pela ruptura das cadeias internacionais de produção, agora há um novo choque exógeno: a alta substancial do petróleo e de outras commodities, como o trigo, gerada pela maciça invasão militar do exército da Rússia em todo o território da Ucrânia. No gráfico de pontos, o banco central americano deverá elevar as previsões para os índices de preços ao consumidor e reduzir as estimativas para o PIB do país neste ano. Também é esperado um aumento significativo do número de dirigentes que apoiam a alta dos Fed Funds em 2022.

Economistas nos Estados Unidos entrevistados pelo Broadcast acreditam que o presidente do Fed, Jerome Powell, manterá a narrativa de que será apropriado iniciar logo um ciclo de aperto monetário no país para evitar que a alta inflação fique enraizada na economia americana e não repita a espiral de subida de preços ocorrida na década de 1970, sobretudo devido à crise do petróleo.

Powell deverá ressaltar que a economia dos EUA continua forte, com substancial criação de postos de trabalho, como foi registrado no mês passado, quando foram gerados 678 mil novas vagas, o que levou a uma taxa de desemprego para 3,8%. Ao mesmo tempo, a inflação continua muito acima da meta média de 2%, pois o índice de preços ao consumidor atingiu 7,9% em fevereiro em termos anuais, a maior marca desde janeiro de 1982.

“O presidente do Federal Reserve deverá apontar que as condições da inflação bem alta e o forte mercado de trabalho justificam que seja adotado um movimento de elevação dos juros”, aponta Sam Bullard, economista-sênior do banco Wells Fargo.

A invasão militar na Ucrânia, além de ser uma catástrofe humana, provocou um aumento vertiginoso dos preços do petróleo bruto, que chegou a atingir US$ 130 o barril na semana passada. O espectro de uma guerra prolongada no leste europeu, o pior conflito bélico no velho continente desde o iniciado em setembro de 1939 por forças nazistas que ocuparam a Polônia, também puxou para cima com vigor as cotações de outras commodities, com destaque para alimentos. “A guerra agrega pressões de aumento da inflação nos EUA e é mais uma incerteza para uma conjuntura mundial já repleta de dúvidas”, destacou Brian Rose, economista sênior do UBS Global Wealth Management.

Em Wall Street, há grande certeza de que o Federal Reserve deverá subir os juros seis vezes neste ano, com elevações de 0,25 ponto porcentual. Mas a escalada da inflação é tão substancial nos EUA que levou o Citi a prever que os Fed Funds serão elevados sete vezes em 2022, sendo que em maio ocorrerá um incremento de 0,50 ponto porcentual. “O avanço expressivo dos preços do petróleo e gasolina são sentidos pela economia americana no curto prazo, a ponto de puxar a inflação para uma marca tão alta que demandará um forte sinal pelo banco central de que fará tudo que for necessário para reduzi-la", comentou Veronica Clark, economista do Citi para os Estados Unidos.

Entrevista coletiva. Na entrevista coletiva, Jerome Powell deverá manter a avaliação de que é necessário que o Fed adote “uma série de altas” seguidas dos juros para conseguir declinar a curva inflacionária. “O principal elemento de forward guidance que Powell poderá destacar é que o Fed será ágil e humilde para reagir contra os preços elevados, inclusive para não permitir que as expectativas de longo prazo deixem de ficar ancoradas", destacou Brett Ryan, economista-sênior para os EUA do Deutsche Bank.

Como a inflação nos EUA está quase quatro vezes maior do que o objetivo perseguido pelo Federal Reserve, Powell deverá ressaltar que o combate aos preços elevados é sua prioridade, mais importante do que o risco de desacelerar em excesso o crescimento do país com a nova política monetária. “Ao contrário dos choques anteriores promovidos pela alta do petróleo, a inflação está muito acima da meta e os preços mais elevados desta commodity são uma preocupação adicional para o Federal Reserve”, comentou Ryan Sweet, diretor de economia em tempo real da Moody's Analytics. “Ele enfatizará a importância de que o Fed permaneça flexível, dependente de dados e manterá seu plano de normalizar as taxas de juros até que os fatos mudem.”

Em relação ao gráfico de pontos, é provável que suba de três para quatro ou cinco o número de elevações de juros previstas pela maioria dos integrantes do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês). Muitos especialistas acreditam que o Federal Reserve subirá as estimativas de alta do núcleo do índice de preços de gastos ao consumidor, o PCE, de 2,7% para bem perto de 3,0% neste ano. O incremento da inflação deverá impactar a renda disponível das famílias americanas, que junto com a subida dos juros, deverá provocar uma redução das previsões para o PIB dos EUA em 2022. Em dezembro, dirigentes do Fed previram que o crescimento americano atingiria 4,0% neste ano.

Os Fed Funds deverão retornar à taxa neutra de 2,5% ao ano até o final de 2023 e poderão superar um pouco este patamar em 2024, como prevê Brian Rose. “Jerome Powell manifestou que talvez seja necessário levar os juros para um nível pouco acima da taxa neutra”, disse. Segundo o economista do UBS Global Wealth Management, como a inflação está bem elevada, não é possível descartar que os juros subirão neste ano 0,50 ponto porcentual, como Powell deixou aberta esta opção em audiência recente no Congresso.

Os especialistas também ressaltam que o Federal Reserve deverá complementar a política monetária restritiva com o início da redução do balanço de ativos do Fed, próximo hoje a US$ 8,44 trilhões. Contudo, esse movimento não deverá ser iniciado antes de maio, pois o FOMC deverá esperar para fazê-lo depois de ter pelo menos implementado dois aumentos das taxas de juros.

Contato: ricardo.leopoldo@estadao.com
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