Economia & Mercados
26/04/2022 10:53

Exclusivo: Após anunciar usina solar em SP, EDP mira desenvolvimento de mais um projeto


Por Luciana Collet

São Paulo, 25/04/2022 - A EDP Brasil acelera seu plano de expansão em geração solar. Com a meta de chegar a 1 GWac de potência instalada em projetos fotovoltaicos até 2025, a companhia anunciou na semana passada o investimento na usina Novo Oriente Solar e já inicia os trabalhos visando viabilizar mais uma usina solar ainda este ano, segundo o presidente da companhia, João Marques da Cruz.

"Novo Oriente é o segundo investimento que está sendo feito em solar de grande dimensão - o primeiro foi Monte Verde, no Nordeste, que foi anunciado em outubro - e estamos trabalhando para que neste ano haja um terceiro; e queremos que, para o ano (de 2023), haja mais dois, sempre com essa dimensão de trezentos e poucos megawatts-pico, que significa 250 MWac", disse Cruz, em entrevista ao Broadcast Energia.

Com previsão para início de operação em 2024, Novo Oriente será localizada em Ilha Solteira (SP) e terá capacidade instalada de 254 MWac, num investimento estimado em cerca de R$ 900 milhões, considerando a métrica de custo de R$ 3,5 milhões a R$ 3,8 milhões por MWac, para projetos dessa natureza.

Assim como os demais projetos solares que a EDP está construindo ou pretende construir, trata-se de uma iniciativa feita em conjunto pela EDP Brasil e EDP Renováveis na proporção de 50% para cada empresa. O grupo costuma explicar que, com a parceria, garante a expertise e a economia de escala na construção obtidos pela empresa global de geração renovável, ao mesmo tempo em que viabiliza melhor negociação da energia no mercado local propiciada pela controlada no País.

Segundo Cruz, o atingimento da meta de 1 GWac de energia solar por parte da EDP Brasil até 2025, entre usinas de porte grande (centralizadas) e pequeno (geração distribuída), é a resposta da companhia à transição energética e às mudanças climáticas. "É mais solar e menos hídrica, uma substituição de hídrica por solar, mantendo um grande nível de contratação", explicou.

Comercialização

Ele destacou que o projeto Novo Oriente já possui um contrato de compra e venda de energia (PPA, na sigla em inglês) de 120 MWac, o que viabilizou o projeto, mas a estratégia da companhia é atingir 85% de energia contratada no longo prazo e manter apenas 15% de exposição, volume de energia que será direcionado para a comercializadora do grupo.

"Estamos a abdicar de alguma rentabilidade para termos menos risco, porque se nosso critério fosse rentabilidade ao máximo e esquecêssemos o risco, podíamos ficar com muito mais energia na trading, mas seria uma transação interna: o dono da usina estaria a vender à EDP Trading, e o risco estaria dentro de casa", disse.

Na prática, a EDP está trabalhando com a comercialização de energia de maneira que se torne uma "autoprodução remota" para os clientes - indústrias ou grandes empresas. Para Cruz, o momento é favorável para esse tipo de negócio. Segundo ele, os clientes conseguem fechar contratos de 15 anos, travando o custo da energia a um valor fixo, reajustado pela inflação, com uma economia da ordem de 15% em relação ao custo com projetos de geração distribuída. "Essa é uma forma eficiente de ter solar, por isso é viável ter contratação de longo prazo, porque temos capacidade de partilhar com cliente esse ganho, mesmo em face ao solar de geração distribuída", disse, destacando em particular a economia de escala obtida com o compartilhamento de infraestrutura de transmissão.

Enquanto se lança na construção do complexo solar paulista, a EDP passa agora a concentrar esforços comerciais visando a viabilização da próxima usina. A intenção da companhia é anunciar mais um projeto no fim deste ano. Até lá, a empresa espera já ter garantido a interconexão à rede do novo empreendimento, que ainda não está definido. "Ainda não decidimos se o próximo será no Sudeste ou no Nordeste, temos pipeline para ambos, vai depender de capacidade de interconexão à rede e clientes", disse.

Ele comentou que a localização de Novo Oriente no Sudeste, o principal centro de carga do País, é importante por facilitar as negociações, já que grande parte dos clientes estão alocados nesta região, eliminando o chamado risco de submercado, isto é, a possibilidade de diferença entre os preços da energia no Nordeste e no Sudeste. "Esse risco é percebido entre R$ 15 a R$ 20 por MWh, ou seja não é absolutamente negligente, e ao colocarmos a oferta próximo da demanda estamos a evitar esse sobrecusto do risco de submercado", explicou.

Para o desenvolvimento dos projetos, Cruz destacou que o plano é usar o financiamento corporativo da EDP Brasil, com as captações feitas pela holding, que direcionará capital para as sociedades de propósito específico (SPEs) que controla dentro do complexo. "A EDP Brasil é uma empresa pouco alavancada - no balanço de 31 de dezembro de 2021 nossa dívida, pós pagamento de dividendos, era 2,6 vezes dívida líquida/Ebitda, isso é pouco, temos espaço para o nosso financiamento ao nível corporativo", disse.

Cadeia de suprimentos

Após meses de dificuldades na cadeia de suprimentos de geração solar, com escassez de estoque de insumos industriais e problemas logísticos, que levaram alguns agentes de mercado a dizer que não valia mais a pena investir em projetos solares, Cruz avaliou que o cenário já se modificou. Ele lembrou que os problemas enfrentados coincidiram com a escalada do dólar, que chegou a R$ 5,60, quando efetivamente se observou uma forte pressão no custo da nova geração solar.

"A cotação do real para o dólar é de uma relevância extrema, porque esses equipamentos têm imensa componente importada e faz toda a diferença o dólar estar a R$ 5,60 ou a R$ 4,80, são 20% de diferença", disse, acrescentando, ainda, que a EDP Renováveis garante o suprimento para todas as usinas em desenvolvimento e as condições de suprimento já estão fechadas para o projeto.

Contato: luciana.collet@estadao.com; energia@estadao.com
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