Economia & Mercados
29/07/2022 18:57

Figueiredo: Se coisas continuarem como estão lá fora, BC vai ter que segurar juro em 13,75%


Por Eduardo Laguna e Francisco Carlos de Assis

São Paulo, 28/07/2022 - O sócio-fundador da Mauá Capital e ex-diretor de política monetária do Banco Central (BC), Luiz Fernando Figueiredo, disse hoje que o quadro fiscal e o contexto internacional serão determinantes do tempo em que o País terá que conviver com juros altos.

Após projetar a Selic em 13,75% ao fim da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na semana que vem, Figueiredo considera que, mesmo com os países ricos também subindo os seus juros para esfriar a inflação global, o BC terá que sustentar a taxa básica nesse patamar por mais tempo se o câmbio seguir pressionado pelo risco de recessão global, que gera fuga dos mercados de maior risco.

“O mundo estará na confusão em que está hoje daqui a três ou quatro meses? Se a resposta for sim, o Banco Central vai ter que segurar os juros altos por mais tempo”, comentou o ex-diretor de política monetária do BC em participação no Broadcast Live. “Por outro lado, se as coisas se acalmarem lá fora, vai ajudar o Banco Central”, ponderou.

Além de ver uma probabilidade muito baixa de crise fiscal na Europa, já que os bancos centrais de lá assumem a dívida, Figueiredo citou variáveis que podem contribuir para uma apreciação do real, como os preços elevados das commodities e o diferencial de juros ainda muito favorável ao Brasil, apesar das taxas mais altas das economias desenvolvidas.

A avaliação é que a recessão global pode afetar a liquidez internacional, o que é prejudicial a mercados emergentes, porém menos os preços das commodities, ainda pressionados pelo choque de oferta da guerra na Ucrânia.

O maior problema, contudo, está relacionado às incertezas fiscais do Brasil, destacou o CEO da Mauá. Se o próximo governo conseguir fortalecer o arcabouço fiscal, reduzindo as incertezas, com consequente apreciação do câmbio, a taxa de juros pode voltar a cair, mais cedo. Caso contrário, observou, o BC não deve ter condições de voltar a cortar os juros antes do segundo trimestre do ano que vem, projetou Figueiredo.

“Com a dívida pública perto de 80% do PIB [Produto Interno Bruto], não dá para brincar”, afirmou o ex-diretor do BC, apontando o risco de dominância fiscal, quando a debandada de investidores pelos desequilíbrios das contas públicas chega ao ponto de comprometer totalmente a eficácia da política monetária no controle da inflação.

Contatos: eduardo.laguna@estadao.com; francisco.assis@estadao.com
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