Economia & Mercados
30/04/2020 18:34

Especial: Bradesco e Santander tomam rumo distinto em provisões e atenção se volta ao Itaú


Por Aline Bronzati

São Paulo, 30/04/2020 - Os resultados de Bradesco e Santander Brasil no primeiro trimestre deste ano trouxeram sinalizações bem distintas quanto às expectativas em torno dos estragos que a pandemia do novo coronavírus trará para os bancos brasileiros. Enquanto o primeiro deu uma prova concreta de como a turbulência pode afetar o setor com um reforço de R$ 2,7 bilhões em provisões para devedores duvidosos, as chamadas PDDs, o segundo constituiu um colchão para eventuais perdas, mas somente no conglomerado espanhol, blindando o balanço local.

As atenções se voltam, agora, para o Itaú Unibanco, que divulga seu balanço na próxima segunda-feira, dia 04. A postura esperada no mercado é até de maior dose de conservadorismo, considerando o perfil do banco - isso já aconteceu na época da Operação Lava Jato. Além disso, é um processo que, conforme analistas de bancos, tende a se intensificar nos próximos trimestres por conta da crise.

Teste de estresse feito pelo Banco Central mostra a necessidade de um aumento de provisões da ordem de R$ 395 bilhões por conta da crise, conforme Relatório de Estabilidade Financeira (REF) divulgado ontem. Um choque dessa proporção exigiria uma injeção de R$ 70 bilhões em capital regulamentar. Este cenário é tido, porém, como extremo, na visão da autoridade monetária, que vê o sistema bem capitalizado e provisionado para a crise.

O Bradesco considera fazer mais provisões nos próximos trimestres, mas não quis deixar pistas do que enxerga na frente - a justificativa é a de que falta clareza no cenário por conta da pandemia. O presidente do banco, Octavio de Lazari, classificou o reforço de R$ 2,7 bilhões como uma fotografia do momento atual. "O filme a gente ainda vai ver nos próximos trimestres", destacou o executivo, em teleconferência com a imprensa, nesta manhã.

O reforço nas provisões e o indicador que mostra a formação futura da inadimplência, o NPL creation, dominaram os questionamentos do mercado em relação aos números divulgados pelo Bradesco, com os analistas tentando entender o real efeito do coronavírus no balanço. Também pesou o fato de o índice de cobertura do Bradesco ter diminuído a despeito do reforço nas provisões em um claro sinal de que já havia deterioração na qualidade dos ativos antes mesmo da crise.

Mesmo que a inadimplência do Bradesco no primeiro trimestre ainda não tenha sido afetada pela covid-19 - embora tenha subido, o presidente do banco vê uma piora mais acentuada nos próximos trimestres. O índice de calotes deve superar, na sua opinião, os picos vistos tanto na crise financeira de 2008 como na de 2016, o que tende a pesar nos resultados do banco. No primeiro trimestre, o lucro líquido do Bradesco encolheu quase 40%, para R$ 3,753 bilhões, e sua rentabilidade (ROE< na sigla em inglês) caiu praticamente pela metade.

Na visão de Jörg Friedemann e Gabriel D. Nóbrega, do Citi, o resultado do Bradesco foi um 'choque de realidade'. "Entre os bancos da América Latina, o Bradesco é o primeiro a indicar a magnitude do possível impacto que está por vir", avaliam, destacando a robustez do balanço do banco com o reforço nas provisões.

Do lado do Santander, a sinalização do que poderá ser o impacto da crise para o banco ficou restrita à matriz, na Espanha. O conglomerado reforçou em 1,6 bilhão de euros as provisões para possíveis perdas diante da pandemia. No Brasil, contudo, o colchão para perdas não sofreu grandes alterações, o que sustentou o patamar de lucro e rentabilidade que o banco vinha apresentando até então.

Um motivo que pode ter pesado para não ser mais conservador é justamente um futuro apoio para a matriz espanhola. Isso porque o Banco Central limitou a distribuição de dividendos dos bancos brasileiro no mínimo regulatório exigido, ou seja, de 25% do lucro líquido até setembro. Ou seja, se o Santander reforça as provisões, diminui ainda mais o resultado e, por consequência, os recursos que mandará para o conglomerado espanhol.

O Santander Brasil é a maior fonte de geração de resultados global do grupo. Ao preservar seus resultados, porém, o banco, mais do que entregar os melhores indicadores do sistema financeiro, como classificou o presidente da instituição Sergio Rial, ao Broadcast, pode acabar por ser um outlier, que na estatística, representa algo totalmente atípico, na visão de um especialista do setor.

Diante desse risco, o Bradesco BBI colocou o Santander Brasil na pior colocação entre os bancos privados no Brasil. "Em nossa opinião, a subsidiária brasileira deve preparar mais gradualmente sua almofada para um esperado aumento da inadimplência, provavelmente adiando o retorno dos lucros quando a crise terminar", avaliam os analistas Victor Schabbel e Sofia Viotti, em relatório ao mercado.

Para eles, a recuperação do lucro e da rentabilidade dos bancos virá apenas em 2022. Sobre o Itaú, que divulga seus números na próxima semana, a expectativa dos analistas do BBI é de uma queda de 30% no lucro deste ano.

Contato: aline.bronzati@estadao.com
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