Economia & Mercados
30/08/2023 14:11

Especial: 123 milhas pede recuperação judicial e CVC sobe 6%, mas crise é do setor


Por Talita Nascimento, Elisa Calmon, Amélia Alves e Júlia Pestana

São Paulo, 29/08/2023 - A agência de viagens 123 Milhas entrou com pedido de recuperação judicial nesta terça-feira, 29, segundo documento ao qual o Broadcast teve acesso. A dívida acumulada pela empresa é de cerca de R$ 2,3 bilhões. O montante inclui as dívidas da companhia sujeitas à RJ, podendo haver ainda outros passivos que não entram nesse dispositivo legal. Com a notícia, a CVC apresentou alta de 6,36%, com a lógica de que a dificuldade da concorrente pode atrair vendas para a empresa de viagens listada na B3. No entanto, analistas apontam que o setor, como um todo, segue desafiado.

"Tem impacto positivo na CVC porque é um concorrente que cai. Ela tende a sugar esse fluxo que sobra no mercado, podendo impactar as reservas e de uma companhia que vinha sendo penalizada por resultados operacionais", afirma Rafael Passos, sócio da Ajax Asset.

Gabriel Costa, analista da Toro Investimentos, diz, porém, que a CVC também está em uma situação complexa. Há alguns meses, necessitou de aumento de capital e promoveu renegociação de dívidas para se manter solvente. "A alta é precipitada e reflete a especulação dos investidores ao redor do que pode acontecer. De fato, na falta de uma grande concorrente, há espaço para ganho de parcela do mercado, mas a execução operacional para suprir a demanda depende da capacidade da empresa em capturar a oportunidade", disse Costa

Após a última divulgação de resultados, por exemplo, os papéis da CVC entraram em leilão, com queda de 6,25%. As críticas foram voltadas à dificuldade de rentabilidade da companhia. A CVC Corp apresentou prejuízo líquido de R$ 167 milhões no segundo trimestre de 2023, montante 76,1% maior do que no mesmo período de 2022. Segundo a companhia, os resultados do trimestre foram afetados "negativamente pelas restrições de capital pré follow-on". A companhia levantou R$ 550 milhões na oferta.

Depois de reestruturar sua dívida, a companhia passa por uma mudança de gestão. O novo CEO da CVC Corp, Fábio Godinho, disse a investidores no início do mês que, nos últimos anos, a companhia se distanciou do mercado em termos de ambiente competitivo. Ele afirma que a nova gestão, com 15 anos de experiência no setor de turismo, está cuidando disso agora e deve melhorar o ganho de mercado.

O CEO anterior, Leonel Andrade, já havia alertado, na divulgação dos resultados do primeiro trimestre, para o risco de novos casos como o da Hurb acontecerem no setor. Em entrevista ao Broadcast, ele disse que o setor de turismo poderia viver mais turbulências caso não houvesse uma regulação deste segmento. Sem citar nominalmente o caso do Hotel Urbano (Hurb), no qual clientes ficaram sem acesso às viagens compradas com antecedência, Andrade se disse contrário à prática de fazer “vendas a descoberto”. Ele afirmou que não é possível adquirir pacotes aéreos com mais de 11 meses de antecedência. Assim, viagens vendidas naquele momento, para prazos muito longos, não teriam garantia, em sua visão.

Segundo o pedido de Recuperação Judicial da 123 Milhas, as requerentes têm enfrentado a pior crise financeira desde suas respectivas fundações, decorrente do "acúmulo de fatores internos e externos, que impuseram um aumento considerável de seus passivos nos últimos anos". Com isso, defendem que somente uma solução global pode resolver a situação para assegurar a continuidade de suas atividades e o cumprimento de sua função social.

Como fatores para a crise, o documento cita que, nos últimos anos, as vantagens que permitiam a emissão de bilhetes aéreos mais baratos, principalmente aquisições com milhas, vêm diminuindo gradativamente.

Além disso, argumenta que a rescisão de contratos firmados com companhias aéreas que eram consideradas parceiras também inviabilizou o cumprimento de suas obrigações. Pesou ainda o aumento da taxa de juros para antecipação de recebíveis, que, no início de 2021, era de 0,3% ao mês, elevando-se, ao longo dos últimos anos, para 1,5% ao mês.

Outro lado

Em nota, a empresa afirmou que a medida tem como objetivo assegurar o cumprimento dos compromissos assumidos com clientes, ex-colaboradores e fornecedores. Disse ainda que permanece fornecendo dados, informações e esclarecimentos às autoridades competentes sempre que solicitados.

"A empresa e seus gestores se disponibilizam, em linha com seus compromissos com a transparência e a ética, a construir conjuntamente medidas que possibilitem pagar seus débitos, recompor sua receita e, assim, continuar a contribuir com o setor turístico brasileiro", disse ainda no pronunciamento à imprensa.

Na segunda-feira, a empresa já havia anunciado uma reestruturação, com demissão de funcionários depois do cancelamento de pacotes de viagens já pagos pelos consumidores.

Contatos: talita.ferrari@estadao.com; elisa.ferreira@estadao.com; amelia.alves@estadao.com; julia.pestana@estadao.com
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