Economia & Mercados
01/07/2020 08:49

Dúvidas do Cade sobre venda da Liquigás geram incertezas no mercado sobre conclusão do negócio


Por Wagner Gomes

São Paulo, 01/07/2020 - O pedido do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) de mais 90 dias para analisar a venda da Liquigás pela Petrobras gera dúvidas no mercado sobre a possibilidade de a operação ser aprovada. Se de um lado há quem acredite que alguns remédios poderão ser suficientes para levar o negócio adiante, do outro existem os que apostam que o monopólio em algumas regiões do consórcio que fez a oferta vai barrar a conclusão da venda. Se isso realmente acontecer, será a segunda tentativa frustrada de venda da Liquigás. A primeira foi em fevereiro de 2018 com a Ultragaz, do grupo Ultra.

"O Cade classificou como complexa a operação, que pode não seguir adiante assim como ocorreu com a Ultragaz, que tem grande concentração no Sudeste e no Centro-Oeste. O negócio agora foi fechado com um consórcio que tem concentração forte em várias regiões. A Nacional Gás Butano, por exemplo, tem presença forte no Nordeste e presença considerável no Sudeste. Não é um equacionamento fácil. Qualquer um que absorver a Liquigás poderá ter situação de monopólio regional", disse uma fonte do setor de gás que preferiu não se identificar.

A operação com o consórcio formado pela Copagaz, Itaúsa, Nacional Gás e Fogás foi anunciada em novembro do ano passado por R$ 3,7 bilhões. Em nota, o Cade disse na última semana que houve ponderações negativas sobre a operação, em particular vindas de distribuidores de menor porte e de associações de revendedores, que apontaram uma possível concentração elevada nos mercados de distribuição de GLP envasado e a granel em alguns estados. A superintende-geral do órgão, Patrícia Sakowski, falou ainda sobre a necessidade de escala de produção, implantação de bases economicamente viáveis e acesso a botijões e ao sistema de distribuição da Petrobras.

"Vários pontos foram alegados pelo Cade, entre eles a maneira como se daria a formação desse consórcio, já que primeiro a Nacional Gás compraria a Copagaz e depois passaria para um outro participante do grupo. Muita coisa não foi bem desenhada e eu, particularmente, acho difícil o processo avançar nos moldes em que está", afirma a fonte.

Pelo modelo de venda atual, serão três operações em uma. A Liquigás será adquirida pela Copagaz, que terá parte do capital social votante vendido à Itaúsa, ao mesmo tempo em que alguns ativos da Copagaz e da Liquigás serão vendidos para a NGB e à Fogás. No final da operação, a Copagaz e a Itaúsa ficarão com 79% de participação dos ativos da Liquigás, enquanto a NGB e a Fogás terão, respectivamente, 20% e 1% de participação. O controle principal será da Copagaz.

"A concentração regional sempre entra no debate de vendas de um ativo. Se a Petrobras não estivesse vendendo as suas refinarias, eu diria que a concentração seria grande mesmo. Mas o Brasil tem que se adequar a um mercado mais aberto, mesmo que haja alguma concentração regional e a necessidade de compensação por importação", disse João Zuneda, diretor da MaxQuim.

Para o mercado, uma das opções seria a entrada de um player estrangeiro, que não participe desse oligopólio. Mas também existe a preocupação de que esse possível interessado desista no meio do caminho por esbarrar em diversas dificuldades. "Tem o próprio monopólio da Petrobras no fornecimento de GLP e tem ainda a questão do preço do produto. Como o botijão de gás é de interesse social, historicamente há intervenção e controle de preços. Isso tudo cria situações que vão contra a atratividade deste ativo", afirma a fonte.

De acordo com um outro analista, ainda que a venda negociada com o consórcio seja reprovada pelo Cade, a Petrobras continuará com a sua intenção de se desfazer do negócio, que faz parte de sua meta de desinvestimento.

Contato: wagner.gomes@estadao.com
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