Economia & Mercados
03/12/2021 09:23

Especial: "Empresas cheque em branco" captam US$ 2 bi nos EUA para ir às compras no Brasil


Por Altamiro Silva Junior e Cynthia Decloedt

São Paulo, 02/12/2021 - As "empresas cheque em branco", tecnicamente chamadas de Spac (Companhia de Aquisição com Propósito Específico, na sigla em inglês), nunca captaram tanto como nos últimos meses e estão com bilhões para fazer aquisições na América Latina, especialmente no Brasil. Só neste ano, já são US$ 2 bilhões em ofertas na Nasdaq, de gestoras como XP, Dynamo, Valor Capital, Pátria e Crescera.

Nos bancos de investimento, a avaliação é que o tamanho do mercado brasileiro deve receber mais Spacs em 2022, inclusive com ofertas na B3. A Alvarez & Marsal foi a primeira a conseguir autoriazação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para fazer a captação via Bolsa brasileira, mas o movimento de alta de juros pelos bancos centrais pode atrapalhar o apetite de investidores.

O primeiro fator que contribuiu para o boom desse tipo de captação, segundo banqueiros de investimento, foi a procura por rendimento. Quando o investidor compra papéis de uma Spac na oferta pública, mesmo que a empresa não encontre ativos para adquirir no curto prazo, seu dinheiro é remunerado e, em condições de juro baixo, dá melhor retorno do que se ficasse em um fundo de investimento normal.

Por isso, com os juros perto de zero nos países desenvolvidos e com o excesso de liquidez no mercado financeiro mundial, as "empresas cheque branco" conseguiram atrair forte demanda, de investidores em busca de diversificação. As gestoras, com algumas exceções, têm tido facilidade para captar recursos com Spacs em Nova York.

Após o boom recente de ofertas de ações, o presidente de um banco de investimento afirma que o ritmo de captações de Spacs voltados ao Brasil e à América Latina pode perder fôlego, principalmente por causa da elevação dos juros ao redor do mundo. Nesse ambiente, o investidor tem mais opções de diversificação.

Outra razão é a falta de boas empresas para aquisição. Normalmente, o prazo entre a captação do Spac e o limite para a compra é de dois anos. Após este período, é preciso rediscutir parâmetros e prazos ou encerrar a "empresa cheque em branco". Segundo fontes, há Spacs no Brasil discutindo extensão de prazos, já perto da data limite para fazer uma aquisição.

Como esse tipo de operação é nova no País, é preciso de mais um tempo de maturação desse mercado, diz um executivo da Faria Lima. Enquanto menos de 10 Spacs foram lançadas aqui este ano, nos Estados Unidos, já são em torno de 400. Para essa fonte, com o mercado mais difícil para ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês), o Spac pode ser uma opção de recursos para companhias com planos de abrir o capital, em 2022.

A sócia do Demarest, Ana Carolina Audi, afirma que, em momentos de turbulência, como o atual na Bolsa brasileira, o Spac pode ser uma boa opção justamente pela proteção e remuneração ao capital do investidor, até que o ativo alvo seja encontrado pelo Spac.

"Em um momento difícil de mercado, opções de investimento que garantem o principal investido com alguma correção são sempre bem vindas", diz ela. Audi afirma que o investidor não fica sujeito à oscilação de mercado e que os Spacs de empresas com experiência e bom histórico de mercado deveriam ser privilegiados. “Não conheço um produto tão seguro, que tenha a garantia de renda fixa e que, se o investidor não gostar da combinação de negócio, pode resgatar o principal, sem risco”, diz.

Batendo cabeça

As áreas preferidas das "companhias cheques em branco" são os setores de saúde e tecnologia, para aquisição com empresas de valor de mercado na casa de US$ 1 bilhão. No Brasil, esse universo não é tão grande. Seriam em torno de 60 ou 70 empresas privadas, nos cálculos de um banco estrangeiro, considerando as companhias que ainda não foram à Bolsa.

"Aí fica todo mundo batendo cabeça nas mesmas", diz a fonte deste banco. Para o dono da companhia que pode ser alvo de um SPAC, fica a dúvida se vale a pena diluir o capital e se a gestora vai de fato agregar valor ao negócio, pois em vários casos, os sócios não têm histórias de investimentos bem sucedidas nestes segmentos.

Audi, do Demarest, afirma que, ao contrário, essa é uma oportunidade para que empresas cheguem à Bolsa sem ter de passar pelo processo de abertura de capital e ao crivo de investidores que, muitas vezes, priorizam o retorno de curto prazo. "Por exemplo, as companhias de tecnologia têm recebido alto investimento de fundos de private equity, sido alvo de combinações de negócios bem sucedidos e apresentam potencial rentabilidade que talvez não seja suficiente para entrada na Bolsa”, diz.

Contato: altamiro.junior@estadao.com e cynthia.decloedt@estadao.com
Para ver esta notícia sem o delay assine o Broadcast+ e veja todos os conteúdos em tempo real.

Copyright © 2024 - Todos os direitos reservados para o Grupo Estado.

As notícias e cotações deste site possuem delay de 15 minutos.
Termos de uso