Agronegócios
11/08/2021 08:42

Cana/São Martinho: estimativa é que moagem do Centro-Sul em 2021/22 fique em 520 mi a 525 mi de t


Por Augusto Decker

São Paulo, 1/08/2021 - A moagem de cana-de-açúcar no Centro-Sul do Brasil deve ficar entre 520 milhões e 525 milhões de toneladas na safra 2021/22, que termina em março do ano que vem, estima o diretor Financeiro e de Relações com Investidores da São Martinho, Felipe Vicchiato. O volume representaria uma queda expressiva na comparação com a temporada anterior, principalmente por causa da seca e das geadas que atingiram áreas produtoras nos últimos meses.

Com perspectiva de recuo no processamento de cana, a companhia vê cenário de alta nos preços do açúcar, o que fez o ritmo das fixações de preço diminuir. "Nosso hedge fixado no final de junho foi quase o mesmo volume do final de março porque entendemos que os próximos 18 meses podem ser de ciclo bem positivo", afirmou Vicchiato, ontem (10), em teleconferência com analistas e investidores para apresentar o resultado da São Martinho no primeiro trimestre da safra 2021/22.

Além do Brasil, ele citou a Índia, que vem trabalhando para aumentar a produção de etanol. Lá o biocombustível também é feito a partir da cana, e se um porcentual maior da planta for destinado ao etanol, o volume de açúcar produzido tende a cair, assim como a oferta global do adoçante. "Se a Índia tomar todas as medidas, podemos ver um novo patamar de preços de açúcar, chegando a 20 ou 25 centavos de dólar por libra-peso", disse Vicchiato. Ele lembrou, porém, que é preciso tomar cuidado e que, ao se planejar para o futuro, a empresa leva em conta preços mais conservadores.

Questionado se os problemas climáticos desta safra podem afetar a temporada 2022/23 de cana, que começa em abril do ano que vem no Centro-Sul, o executivo disse que essa é uma possibilidade, principalmente se as chuvas no verão forem fracas novamente. "Se a chuva voltar ao normal entre novembro e março, o impacto deve ser pequeno", disse. De acordo com Vicchiato, a São Martinho está investindo algo próximo de R$ 20 milhões para recuperar o plantio, prejudicado após o tempo seco.

Abastecimento - Se o etanol anidro, que é misturado à gasolina, faltar no Brasil, o setor sucroalcooleiro está comprometido a importar, afirmou o diretor Financeiro e de Relações com Investidores da São Martinho, Felipe Vicchiato. "A falta de etanol anidro seria um grande problema", disse ele na teleconferência. "A São Martinho e o setor estão prontos para fazer importação se isso acontecer. É um compromisso: na hipótese de falta de anidro, importamos para atender o mercado brasileiro."

Ele destacou que a intenção é que não falte, e que a eventual importação só seria feita se realmente necessária. O executivo destacou que a São Martinho já não tem exportado o biocombustível do tipo anidro. "Mantivemos para atender o mercado doméstico e esperamos que outros players façam o mesmo." Além disso, já se observa casos de desidratação - feita para converter o etanol de hidratado para anidro.

A gasolina comercializada no País precisa ter mistura 27% de etanol anidro, e o setor sucroenergético é contra pedidos de redução da mistura. Por isso - e por causa dos preços mais favoráveis -, a produção desse tipo de biocombustível aumentou nesta safra mesmo com uma menor moagem de cana-de-açúcar.

Quanto a uma eventual falta de etanol hidratado - usado diretamente nos veículos sem mistura de gasolina -, Vicchiato afirmou que "se o preço subir muito acima de 75% (da paridade com gasolina) o consumidor sempre pode migrar para a gasolina".

Milho - A São Martinho comprou, por enquanto, 15 mil toneladas de milho para a nova unidade que produzirá etanol a partir do grão, afirmou o diretor Financeiro e de Relações com Investidores da empresa, Felipe Vicchiato. "É pouco frente às 500 mil toneladas que precisaremos comprar por ano", disse. Ele afirmou que o baixo volume adquirido até agora se deve à pequena disponibilidade do grão e ao fato de a armazenagem da unidade ainda não estar pronta. "Este ano ou ano que vem já devemos ter volume relevante de milho", afirmou.

O executivo disse que o plano não é comprar no spot. "Mas recentemente houve queda importante na safra de milho, e acabou que a cadeia de suprimentos está prejudicada fora da normalidade. Nossa estratégia é comprar antecipadamente quando houver disponibilidade e armazém", contou.

Durante a conferência, Vicchiato afirmou que uma das possibilidades de alocação de capital da companhia seria uma segunda fase da planta de etanol de milho, que "adicionaria 220 mil metros cúbicos de etanol rapidamente". Ele lembrou que é mais fácil aumentar rapidamente a produção de etanol de milho do que do biocombustível feito de cana-de-açúcar, já que a cana demora mais tempo para ser desenvolvida.

Outra possibilidade é o aumento na produção de energia nas usinas São Martinho e Santa Cruz. Ele afirmou que tudo dependerá da atratividade do preço desse tipo de energia. "No último leilão não valeu a pena, mas, dependendo de como a reforma tributária passar, a energia pode começar a ser mais atrativa."

Há também possibilidade de fusão e aquisição (M&A, na sigla em inglês) para aumentar a moagem de cana, também nas unidades São Martinho e Santa Cruz. "Isso reduziria o custo fixo e melhoraria a rentabilidade, mas M&A depende de preços de terceiros", disse o executivo.

Vicchiato também diz que a companhia considera programa de recompra de ações, mas que isso pode afetar a liquidez dos papéis. Ele falou ainda sobre dividendos, e disse que até o final do ano o baixo endividamento da companhia pode abrir espaço para essa forma de alocação.

Contato: augusto.decker@estadao.com
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