Economia & Mercados
07/04/2020 07:38

Especial: Gestores reduzem posições em setores cíclicos e aumentam exposição na bolsa americana


Por Fernanda Guimarães

São Paulo, 07/04/2020 - Depois de um mês que chacoalhou os mercados, levando o Ibovespa a uma queda de 30%, os gestores tiveram que virar suas carteiras e repensar em estratégias em meio à pandemia do novo coronavírus. Nesse rebalanceamento, os gestores reduziram fortemente suas posições em setores cíclicos, como varejistas, venderam ações de empresas mais alavancadas e, nos multimercados, onde é possível investir em todas as classes de ativos, uma das apostas foi ampliar a exposição nas bolsas dos Estados Unidos, onde se espera menor volatilidade e recuperação mais rápida em relação ao Brasil. Na Bolsa brasileira, muitos apontam que ainda não é possível saber se o mercado já atingiu, de fato, o fundo do poço e a mensagem de muitos tem sido de cautela.

"Ainda que métricas tradicionais de precificação apontem para oportunidades atrativas na área de renda variável, a elevada volatilidade dessa classe de ativos junto à incerteza acerca da dinâmica da expansão do vírus e da extensão do movimento recessivo à frente demandam, a nosso ver, prudência na alocação de risco a esse segmento. Nesse momento, preferimos observar de fora a correr o risco de 'queimar a largada' nesta que pode ser uma ótima oportunidade mais à frente, segundo carta aos cotistas de março da gestora Ibiúna, de Mário Torós, ex-diretor de Política Monetária do Banco Central.

A Verde Asset, de Luis Stuhlberger, admitiu em sua última carta que cometeu um erro ao ir às compras na bolsa precocemente. Os gestores da casa dizem que subestimaram alguns fatores, como a trajetória do coronavírus na Itália. "O caso italiano virou benchmark para o mundo ocidental, e isso fez os mercados precificarem o 'sudden stop' econômico de todos os países", destacam. Em seus fundos multimercados, a escolha, ainda, foi de aumentar a exposição ao mercado acionário americano, segundo carta da gestora, divulgada hoje. "Vemos ali a melhor combinação de poder de fogo fiscal e monetário com lucratividade das empresas", segundo o documento.

O fundador e gestor do Adam Capital, Márcio Appel, disse em 'live' promovida pelo BTG Pactual na semana passada que o momento pede diversificação, não posições direcionais. "Manter uma "posição direcional é um exercício de fé muito grande nesse momento", destacou. O gestor disse que não é possível dizer que o Ibovespa em 70 mil pontos está barata, diante da atual conjuntura. Disse, ainda, que pelo Ibovespa já ter chegado aos 120 mil pontos, não significa que voltará para esse patamar. "Tem ramificações políticas dessa crise para o Brasil depois dessa crise, as sequelas não serão apenas econômicas e financeiras".

A gestora Occam, por sua vez, explicou aos seus cotistas que zerou as posições em empresas alavancadas, pouco líquidas e nos setores mais impactados nessa crise. "Mantivemos posições em empresas líderes, que acreditamos que conseguirão atravessar relativamente bem essa fase. Aproveitamos para capturar, de forma tática, algumas assimetrias que enxergávamos no Brasil e voltamos a expandir o risco na bolsa americana", de acordo com o documento. Na bolsa americana, a escolha foi por ações do setor de tecnologia.

A maior exposição por lá está sustentada na percepção de que nos Estados Unidos já está sendo trilhado o caminho da normalização da volatilidade, com respostas monetária, fiscal e de gestão da crise, que na visão da gestora serão mais consistentes. "Estamos observando que um cenário de grandes oportunidades à frente, mas precisamos ter mais clareza da duração e intensidade deste movimento para voltarmos a aumentar o risco de forma relevante".

Na Bahia Asset, a escolha foi de reduzir posições compradas em empresas cíclicas dos setores de petróleo e consumo discricionário. Além disso, a estratégia foi de encerrar posições vendidas em telecomunicações e aumentar a posição comprada em farmácia. "Também trocamos parte do direcional comprado em bolsa Brasil para bolsa americana. Acreditamos que a economia americana e as empresas do S&P500 têm mais condições de reagir primeiro ao choque".

Nos fundos de renda variável da XP Investimentos, um movimento, que chamou atenção do mercado, explica o momento. A XP anunciou a venda de metade de sua posição na Via Varejo, em meio à remodelagem de sua carteira na esteira da pandemia. A percepção é que, agora, não faz sentido ter uma exposição muito grande em uma varejista. A venda por parte da corretora chamou a atenção também porque foi exatamente a XP que esteve ao lado do fundador da Via Varejo, Michael Klein, na recompra da companhia pelo empresário, quando o GPA saiu de seu capital, em um leilão na Bolsa.

"Os movimentos realizados no fundo nas últimas semanas abriram espaço para aumentarmos a alocação em companhias consideradas 'premium' e que agregam qualidade ao portfólio do fundo. Empresas com balanço forte e diferenciais competitivos passaram a ser prioridade", conforme carta aos cotistas. Dentre grande parte dos gestores um dos nomes mais recorrentes de ação defensiva nesse momento é o da Vale. Isso porque a empresa está com um caixa muito robusto, seu produto carro-chefe, o minério de ferro, está com preços em níveis altos apesar da crise, o dólar valorizado ajuda seu balanço e a empresa tem como principal cliente a China, que já dá sinais de que está em processo de recuperação econômica.

Na IP capital Partners, a carta de março apontou para a mesma direção. Por lá, comunicado aos cotistas destaca que desde janeiro o fundo tem eliminado sua exposição a setores expostos ao turismo e diminuindo no varejo. O foco dos investimentos também está em empresas consideradas sólidas.

Contato: fernanda.guimaraes@estadao.com
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