Economia & Mercados
01/07/2020 09:08

Com retomada lenta, PIB de 2020 voltará ao nível de 2010 e marcará década perdida


Por Cícero Cotrim e Thaís Barcellos

São Paulo, 01/07/2020 - Com o consenso de que o fundo do poço para a atividade econômica ocorreu em abril, os economistas do mercado financeiro se voltam agora para o ritmo da retomada. Analistas consultados pelo Broadcast são unânimes em dizer que, apesar de o pior ter ficado para trás, é certo que o País chegará ao fim do ano com a atividade em nível baixo e que a economia não retornará ao patamar pré-pandemia antes da metade de 2021. Para alguns dos analistas consultados, o mais provável é que o Produto Interno Bruto (PIB) chegue ao fim de 2020 no mesmo nível de 2010.

Em abril, os efeitos negativos da pandemia de covid-19 sobre a confiança e a queda da demanda causada pelas medidas de isolamento social derrubaram o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) em 9,73%, ao menor nível desde outubro de 2006, na esteira das quedas históricas da produção industrial (-18,8%), varejo ampliado (-17,5%) e serviços (-11,7%). A Fundação Getulio Vargas (FGV) apontou retração de 9,3% no PIB do mês ante março.

Com a base de comparação depreciada - o IBC-Br está 15,3% abaixo do nível observado em fevereiro -, os analistas esperam agora que os indicadores de atividade apresentem recuperações fortes na margem, mesmo que apenas pelo curtíssimo prazo. "É natural depois desse vale de abril. Quando esse efeito passar é que nós vamos ver quanto de fato perdemos nessa pandemia e quão abaixo do nível pré-coronavírus vamos estar nos aproximando dessa nova normalidade", afirma o economista-chefe do Haitong, Flávio Serrano.

O economista espera retração de 5,5% no PIB de 2020 e afirma que é improvável um retorno ao nível pré-pandemia antes da metade do ano que vem. "Talvez, depois de julho, esse nível se consolide em algo entre 5% e 10% abaixo, mas tem muita incerteza. Não temos como dizer se daqui para a frente só melhora", afirma Serrano.

Mesmo que o fundo do poço da atividade econômica brasileira tenha ficado para trás, ao fim do ano o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV) estima que o Produto Interno Bruto (PIB) deve estar em nível compatível com o terceiro trimestre de 2010, já incluindo alguma recuperação entre o terceiro e o quarto trimestres.

"É literalmente uma década perdida. Lembrando que a gente entrou nessa recessão sem recuperar o nível perdido na crise iniciada em 2014. No fim de 2020, estaremos 9,6% abaixo do primeiro trimestre de 2014, que é o nível pré-recessão. Então entramos nessa recessão sem recuperar a anterior, vamos acumulando perdas", afirma a pesquisadora do Ibre Luana Miranda.

Mesmo antes da crise desencadeada pelo coronavírus, o Ibre ainda não via retorno em 2020 do nível da atividade anterior à recessão de 2015-2016. Antes da pandemia, a instituição aguardava crescimento de 2,2% para o PIB este ano, mas, no fim de 2019, a economia do País ainda precisava avançar 3,4% para retornar ao patamar do primeiro trimestre de 2014. Hoje, o Ibre estima recessão de 6,4% em 2020 e recuperação de 2,5% em 2021.

Com estimativa de nível de atividade econômica dessazonalizado em 161,6 no quarto trimestre de 2020 (número índice do PIB), o economista Rodrigo Nishida, da LCA Consultores, destaca que, além de compatível com o terceiro trimestre de 2010, esse patamar é mais baixo do que o pior momento da última recessão, o quarto trimestre de 2016 (162,1). "Em 2010, o País estava crescendo bastante e rápido, se recuperando da crise de 2008-2009."

A retomada desta vez deve ser lenta, reconhece Nishida, mesmo considerando o cenário menos pessimista da LCA do que o do mercado, com projeção de queda do PIB de 5,6% este ano e crescimento de 3,2% em 2021. Mesmo nesse cenário, a estimativa atual é de retorno ao patamar de atividade anterior ao choque do coronavírus no segundo trimestre de 2022.

De maneira geral, os três pontos que mais preocupam o economista nesta crise são o potencial aumento da defasagem da renda per capita do País em relação aos países desenvolvidos e mesmo a pares, assim como da produção industrial brasileira frente às maiores potências do mundo no setor. Há também receio sobre a limitação de oferta, com muitos estabelecimentos sem conseguir sobreviver à pandemia.

São as mesmas preocupações do economista Luis Bento, da Rio Bravo Investimentos, para quem a tendência é que os efeitos negativos da crise do coronavírus sobre a economia sejam mais duradouros, com a falência de empresas prejudicando fortemente o ritmo da recuperação. "Só porque o pior ficou em abril não quer dizer que se possa ter uma visão otimista para o resto do ano", afirma.

De acordo com o economista, a expectativa é que o PIB chegue ao final do ano 6,9% abaixo do nível observado no quarto trimestre de 2019, o último livre de impactos da pandemia. A Rio Bravo avalia que o patamar pré-covid só deve ser recuperado no final de 2024.

Contato: cicero.cotrim@estadao.com e thais.barcellos@estadao.com
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