Economia & Mercados
31/08/2020 09:57

Para emplacar IPOs, empresas começam a reduzir faixas de preço por ação


Por Fernanda Guimarães

São Paulo, 31/08/2020 - Os investidores estão com a percepção de que muitas empresas estão tentando abrir capital com a expectativa de preço errado para suas ações. Por isso, é esperada uma onda de ajustes nas avaliações. O movimento deixa um pouco de lado a leitura de euforia por conta de juros baixos e excesso de liquidez no mundo.

Na semana passada, a rede de farmácias Pague Menos reduziu o preço de sua ação na tentativa de emplacar sua oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês). A incorporadora Lavvi também encontrou dificuldade para atrair investidores, levando a sua controladora, a Cyrela, a garantir 15% do IPO com seus próprios recursos. Ambas empresas precificam o valor da ação na oferta amanhã, dia 31.

"Essa revisão de preços vai começar a ficar frequente", disse um gestor, na condição de anonimato. Segundo ele, mesmo que exista de fato uma corrida de investidores para a renda variável por causa do juro real quase zerado no Brasil, a seletividade veio para ficar e a "euforia" do mercado acionário é, na sua opinião, apenas aparente.

Hoje, na fila já com pedido de registro feito junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) há mais de 40 empresas, com grande concentração de incorporadoras: são 18 do total. Apenas neste mês, foram cerca de 20 empresas fazendo o protocolo de oferta. Nas últimas semanas, houve duas tentativas frustradas de IPO. A Riva 9, da Direcional, e a You Inc, não encontraram demanda suficiente para colocarem as suas ofertas de pé, em uma prova de seletividade dos investidores.

Um segundo gestor disse, também na condição de não ser identificado, que, de médio a longo prazo, será positivo esse movimento de ajuste de preços das ofertas. Isso porque pode ajudar em um equilíbrio para a formação de preço nas próximas operações. Segundo ele, um corte de preço como o feito pela Pague Menos, que diminuiu o piso da faixa indicativa de preço de R$ 10,22 para R$ 8,50, uma queda de quase 20% na avaliação esperada da companhia, gera uma desconfiança sobre o real valor do ativo.

Um olhar mais crítico em relação aos preços das ações nos IPOs ocorre ainda por conta do desempenho de alguns papéis após as ofertas. A rede de farmácias d1000 acumula queda de 28%. A Panvel, que realizou um re-IPO, cai 20% de lá para cá.

Banqueiros de investimento afirmam que diante da enorme fila que se formou, muito por conta do represamento ocasionado pela pandemia, o trabalho vai ser escolher o timing apropriado de cada oferta, até para permitir que os gestores e investidores consigam analisar as histórias das proponentes. Dada a grande movimentação de ofertas, muitos fundos estão colocando de lado o nome de diversas companhias, sob a justificativa de não haver tempo para se debruçarem sobre os casos. "Não é uma questão de a empresa ser boa ou não. Pode ser o preço, que não converge com a avaliação dos investidores, ou mesmo o momento da oferta", diz uma fonte de um banco de investimento.

Junto a imensa quantidade de candidatas a estreia na B3, há ainda empresas que de forma oportuna poderão aproveitar o momento para fazer caixa, com oferta de ações. O banco Inter, por exemplo, é um que já anunciou sua oferta, que pode superar o R$ 1 bilhão. Também com oferta subsequente (follow on) na rua está a Ômega.

Contato: fernanda.guimaraes@estadao.com
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