Economia & Mercados
21/12/2023 10:30

Especial: China deve desacelerar mais lentamente em 2024, com setor imobiliário estabilizando


Por Maria Lígia Barros

São Paulo, 20/12/2023 - A economia da China deverá continuar desacelerando no ano que vem, após um 2023 particularmente decepcionante. Mas há esperanças de que o setor imobiliário possa ver alguma estabilização, depois das significativas dificuldades financeiras que grandes incorporadoras chinesas passaram nos últimos meses. A melhora nesse que é o principal gargalo do país hoje ajudaria a conter outros estresses de mercado, como a turbulência no setor financeiro - com o shadow banking - e as crescentes dívidas dos governos locais, segundo analistas ouvidos pelo Broadcast. O nível do enfraquecimento do crescimento em 2024 deverá depender, em parte, de quanto Pequim estará disposto a despender esforços para estimular a economia do país, frente a tantos ventos contrários.

O rebaixamento pela Moody’s da perspectiva do rating A1 da China para “negativa”, no começo de dezembro, ilustra bem as incertezas. O quadro geral é diferente do que se esperava no início de 2023, quando o fim do lockdown para conter a pandemia da covid-19 na China parecia promissor para a economia. Mas a saída da crise sanitária mais rápida do que no resto do mundo fez com que a reabertura econômica local não encontrasse sinergias com outros países, explica a economista Louise Loo, da Oxford Economics.

“Como a demanda externa não conseguiu acompanhar, o aumento espetacular da atividade interna da China foi interrompido abruptamente no segundo trimestre, expondo um baixo nível de confiança do setor privado, prejudicado por anos de incertezas regulamentares internas, lockdowns relacionados com a covid-19, e uma correção muito severa no mercado imobiliário”, descreve Loo em nota a clientes.

Loo afirma que a China entrará em 2024 com o sentimento do setor privado contido pelo pessimismo em relação ao setor imobiliário, a despeito de uma política econômica relativamente relaxada no país. Para a consultoria, medidas de apoio vão reduzir alguns riscos, mas não serão suficientes para prevenir a tendência de baixa. Assim, a China deverá crescer 4,4% no próximo ano - menos que os cerca de 5% projetados para este.

O economista Harry Murphy Cruise, da Moody's Analytics, espera que a economia da China se expanda entre 4,8% e 4,9% em 2024. Esse resultado ainda representaria um crescimento “sólido”, mas é condicionado à recuperação do setor imobiliário. Pelo cenário-base do economista, a melhora do segmento só ocorrerá mais para o fim de 2024, e exigirá estímulos governamentais adicionais. Se concretizado, o cenário ajudaria a estabilizar o problema com o shadow banking, e impulsionaria o investimento empresarial, segundo Cruise.

Durante a primeira metade de 2024, entretanto, a conjuntura ainda será desafiadora, disse o economista. “Haverá uma melhora, mas ainda temos a ressaca global da pandemia da covid-19 e altas taxas de juros ao redor do mundo”, afirma, em entrevista ao Broadcast.

Já pelas projeções do Julius Baer, o avanço do PIB chinês deverá desacelerar a 4,4% em 2024, de um crescimento estimado em 5,2% em 2023. “Acreditamos que a desaceleração continuará, mas a um ritmo mais lento”, afirma a economista Sophie Altermatt, do banco suíço, à reportagem. O setor imobiliário deverá continuar pesando, e passará a responder por uma parcela menor da economia chinesa no ano que vem, segundo a especialista. No entanto, o enfraquecimento do setor, assim como o da atividade econômica, será mais devagar do que ocorreu neste ano.

Em relação ao impacto do crescimento chinês na economia global, Altermatt não vê nenhum impulso adicional vindo do gigante asiático. "Esperamos que a política [da China] foque em estabilizar riscos baixistas e o setor imobiliário, mas não fornecendo um impulso às importações chinesas", diz.

As exportações da China, por sua vez, deverão continuar sob pressão no primeiro semestre de 2024, na sua projeção. Isso porque o Julius Baer espera que as economias dos EUA e da zona do euro fiquem ainda mais estagnadas nos próximos meses. A demanda das grandes economias, portanto, não deverá fornecer grande suporte à China. A expectativa é de alívio para as exportações a partir do segundo semestre, à medida que as condições financeiras afrouxam globalmente.

Longo prazo

O Lombard Odier projeta que a China vai crescer 5% neste ano e 4,3% no próximo. Ao longo da próxima década, esse crescimento deverá desacelerar a entre 2% e 4%, segundo a sua estimativa. "A desaceleração estrutural do país não deve surpreender os mercados, já que crescimento abaixo de 5% é um nível natural para uma economia de renda média relativamente industrializada. A verdadeira questão é a habilidade da China para amortecer essa transição de longo prazo com inflação estável e reformas favoráveis ao mercado para empoderar o setor privado e os consumidores", afirma o banco suíço no seu relatório de projeções globais para 2024.

Para o economista-chefe do Bank of America (BofA), Claudio Irigoyen, a China precisa repensar o seu modelo de crescimento no longo prazo. Ele diz que o país deveria canalizar os investimentos de margem de produtividade relativamente baixa para coisas com margens mais elevadas. "Isso tem a ver com investimentos em setores como semicondutores, por exemplo", afirmou Irigoyen em entrevista ao Broadcast.

Contato: maria.ligia@estadao.com
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