Economia & Mercados
21/10/2020 16:21

Especial: Incerteza sobre quem ficará com a Laureate derruba Ser e Ânima na B3


Por Matheus Piovesana*

São Paulo, 21/10/2020 - A perspectiva de uma batalha judicial pelos ativos da Laureate no Brasil adicionou à história um ingrediente - a incerteza - do qual o mercado não costuma gostar. O resultado é que após o Broadcast revelar que a Ser questionou a validade da proposta da Ânima, os papéis da companhia, que chegaram a subir mais cedo, viraram para queda. Há pouco, recuavam 3,55%. Os da Ser caíam 5,20%.

De início, houve leitura positiva quando a Laureate informou que a proposta da Anima era melhor, e que por isso, venderia sua operação brasileira a ela e quebraria o acordo com a Ser. No entanto, quando a própria Ser veio a público para dizer que havia conseguido liminar para suspender a quebra do acordo, analistas ficaram com mais interrogações que respostas.

O Broadcast apurou que a Ser resolveu questionar a validade da oferta da rival porque a Ânima não teria apresentado as fontes de financiamento de sua proposta, R$ 500 milhões maior. Esse questionamento judicial tende a fazer com que a conclusão do negócio se arraste, e o que parecia jogo jogado para qualquer uma das duas empresas ganhou várias complicações.

A análise de investidores era de que tanto Ser quanto Ânima têm muito a ganhar com a aquisição de um portfólio que inclui faculdades como a FMU e a Anhembi Morumbi, não teriam complicações no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e se fortaleceriam em escala nacional. Agora, há uma disputa com resultado pouco claro.

"O que o mercado menos gosta é de incerteza. Não havia uma sinalização de que isso (uma disputa legal) aconteceria", diz Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos. "A partir do momento em que há uma batalha judicial sem perspectiva de quem está certo ou errado, o que tende a ser positivo para as empresas se torna um peso."

Essa incerteza afeta inclusive a análise relativa dos outros dois nomes listados do setor - a Yduqs e a Cogna, líderes no ensino superior privado brasileiro. "No momento em que o negócio for fechado, certamente vai haver um impacto. Mas ainda não sabemos de que modo porque não sabemos o que vai ser essa empresa resultante", diz Julia Monteiro, analista da MyCap. Há instantes, Cogna ON tinha alta de 2,02%, e Yduqs ON, queda de 0,30% - desempenhos melhores que os das empresas envolvidas na briga.

A menor queda da Ânima pode refletir a visão de parte do mercado de que sua proposta de fato larga na frente, mas a incerteza não permite uma melhoria do desempenho. Além disso, Julia explica que há o risco de que as condições do negócio fiquem menos favoráveis às empresas brasileiras. "O problema é essas duas terem que aumentar suas propostas, porque isso não deixaria o negócio financeiramente atrativo no curto prazo", explica. Ou seja: não é o momento para trocar baixo endividamento por crescimento.

Mesmo com a disputa, porém, a Laureate é premiada pelo mercado. Listada na Nasdaq, suas ações sobem 1,38% nesta tarde. O papel tem alta de 10% no último mês, em que, enquanto negociava a melhor condição para sair do Brasil, a companhia americana também vendia operações na Ásia e em outros países da América Latina.

Contato: matheus.piovesana@estadao.com *Colaboraram Fernanda Guimarães e Cynthia Decloedt
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