Economia & Mercados
15/02/2022 09:46

ABC Brasil aposta no meio da pirâmide para avançar em cenário desafiador


Por Matheus Piovesana

São Paulo, 15/02/2022 - Em um ano que se desenha menos favorável ao crédito a empresas, o banco ABC Brasil, especializado no segmento, vai aumentar sua aposta no "meio da pirâmide" para crescer. O chamado middle, que engloba empresas com faturamento anual entre R$ 30 milhões e R$ 300 milhões, foi o de maior crescimento na carteira do banco no ano passado, e neste ano, deve ser mais uma vez o vetor da expansão.

"No middle, estamos falando de 1.700 clientes, mas ainda vemos um mercado com 30 mil empresas", afirmou ao Broadcast o vice-presidente de relações com investidores do banco, Sergio Borejo. "Achamos que tem espaço para crescer neste segmento. Vai ter demanda por crédito, e como temos uma presença ainda pequena, dá para crescer."

Historicamente, o ABC focava em empresas de grande porte, segmento hoje chamado de CI&B (corporate e de banco de investimento), de clientes que faturam mais de R$ 4 bilhões. A maior parte da carteira, 54%, está logo abaixo, no corporate, voltado a companhias que faturam de R$ 300 milhões a R$ 4 bilhões ao ano.

O banco foi para o meio da pirâmide em 2019, e vê em 2022 a oportunidade de ganhar mais espaço entre esse tipo de cliente. Em dezembro de 2020, 6,2% da carteira era voltada ao middle; o porcentual subiu para 7,9% um ano depois, de um total de R$ 37,7 bilhões em empréstimos, garantias e títulos privados.

Borejo disse que mesmo com um cenário mais desafiador, o banco está preparado para seguir crescendo. "Toda vez que há um aumento de juros ou baixo crescimento econômico, aumenta o risco de inadimplência, e estamos falando talvez dos dois itens combinados em 2022", comentou. "Mas o banco está muito bem provisionado. Não enxergamos hoje nenhum sinal de deterioração da carteira."

No quarto trimestre de 2021, o ABC gastou R$ 44,9 milhões em provisões contra a inadimplência, queda de 46% no espaço de um ano, mas aumento de 18,4% em um trimestre. A inadimplência, medida pelos atrasos em parcelas acima de 90 dias, era de 1,1%, ante 0,5% no mesmo período de 2020.

Também no comparativo anual, o lucro do banco subiu 52,8%, para R$ 162 milhões no trimestre. Em 2021, o ABC lucrou R$ 572,2 milhões, salto de 77,7% em relação a 2020. Assim como os grandes bancos de varejo, foi ajudado pela expansão das receitas, bem como pela queda das provisões contra a inadimplência, reforçadas em 2020 com a chegada da pandemia da covid-19 ao País.

"Após encerrar um 2021 que podemos definir como um ano de recuperação de lucratividade concomitante à solidificação de novas iniciativas estruturantes, enxergamos o ABC melhor posicionado para continuar levando a
cabo seu plano de expansão de negócios e avenidas de crescimento", afirmou em relatório o analista Rafael Reis, do BB Investimentos. Segundo ele, a carteira middle deve ser o destaque deste ano, com qualidade de ativos sob controle.

A mesma expectativa surgiu na análise do Bank of America, que estimava que no quarto trimestre, o ABC teria lucro 13% menor que o reportado. "Acreditamos que os resultados do banco deveriam se beneficiar de uma maior exposição ao segmento middle, juros mais altos e as vendas cruzadas com mais produtos baseados em tarifas na carteira", afirmaram Flávio Yoshida, Mario Pierry, Antonio Ruette e Ernesto Gabilondo.

Projeções

Ao contrário dos grandes bancos, o ABC espera uma aceleração de sua carteira de crédito neste ano: projeta crescimento entre 12% e 16%, ante os 9,7% registrados em 2021. As empresas de médio porte devem ser a alavanca, com alta de 40% a 50% nos empréstimos.

Este crescimento terá um preço. O banco projeta que suas despesas aumentarão entre 30% e 40%, graças à expansão comercial para atender o novo público. "O nosso guidance de aumento de despesas tem três grandes pilares: a inflação, que basicamente é dissídio e aluguel; um terço é expansão comercial; e um terço refere-se a investimento em tecnologia", disse Borejo.

Reis, do BB-BI, elencou este como um ponto a se observar. Segundo ele, mesmo com o crescimento da carteira entre o terceiro e o quarto trimestres, a queda do spread (diferença entre o custo de captação e os juros cobrados dos clientes) fez com que a margem com clientes ficasse estável. Mantida a tendência, prosseguiu, pode haver impacto na rentabilidade.

"Visto que aproximadamente metade do resultado do banco vem desta linha (margens), e ao longo de 2022 devemos ver novamente despesas em forte aceleração para sustentar o crescimento estrutural do ABC, o ideal seria vislumbrarmos um maior conforto de que a contrapartida do lado das receitas seja suficiente para equilibrar a balança", afirmou ele.

Contato: matheus.piovesana@estadao.com
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