Agronegócios
11/08/2021 08:47

Marfrig/Miguel Gularte: apostamos em valor agregado para compensar custos na América do Sul


Por Julliana Martins

São Paulo, 11/08/2021 - A Marfrig Global Foods reforçou no segundo trimestre deste ano a sua atuação no segmento de produtos com maior valor agregado, na tentativa de diminuir a exposição aos desafios impostos à operação na América do Sul, disse o CEO da região, Miguel Gularte. A restrita oferta de gado elevou os custos com a arroba do boi gordo no Brasil, em um momento de dificuldade de repasses aos preços do produto final, em razão de um mercado doméstico fragilizado pela crise econômica. Somam-se a isso os gargalos logísticos, com a menor disponibilidade de navios para exportação de carne bovina e a interrupção dos embarques por um período de 30 dias na Argentina.

"Fomos obrigados a reduzir as exportações por causa da logística e trabalhar mais o mercado interno. Por isso, a estratégia foi focar ainda mais nos industrializados, que apesar de também serem muito exportados, são menos afetados e têm uma margem de dois dígitos. Além disso, fizemos um trabalho forte com carnes com marca porque observamos que a demanda das classes média e alta foi mantida", disse o executivo.

A participação dos produtos de maior valor agregado na receita da região subiu de 9% no primeiro trimestre de 2020 para 15% no primeiro trimestre de 2021 e então para 17% no segundo trimestre do ano. A projeção da empresa é de fechar o ano com esse índice a 20%.

Segundo Gularte, os problemas com o escoamento da carne bovina retiveram cerca de 1,5% de crescimento do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) da Operação América do Sul, que ficou em R$ 181 milhões no segundo trimestre, 70,5% a menos do que mesmo período do ano passado. O Brasil foi o mais afetado no período, mas a escassez de navios também esbarrou nos outros países em que a Marfrig opera: Chile, Uruguai e Argentina. "A gente acredita que essas questões serão equalizadas ao longo dos próximos dois trimestres. Nas últimas duas semanas já vimos uma maior frequência de navios", completou.

No Brasil, o aumento de quase 25% nos preços do gado terminado foi sentido com menor intensidade pela companhia, em razão de uma melhoria na eficiência produtiva, por meio de investimentos na modernização de fábricas e ampliação de capacidade produtiva nas plantas voltadas à produção de industrializados. De acordo com o CEO da Marfrig, a empresa teve um ganho de R$ 30 milhões em eficiência, o que compensou parcialmente a alta nos preços da matéria-prima.

O executivo também disse que o cenário mais desafiador no trimestre foi verificado na Argentina, onde o governo federal decidiu suspender temporariamente as exportações de indústrias de proteína animal para tentar controlar a inflação no País. "Tivemos greve no campo e praticamente 30 dias sem exportar nada. Quando o governo reabriu essa possibilidade, trouxe regras muito indefinidas, o que dificultou o nosso trabalho", afirmou Gularte, acrescentando que a situação no país vizinho agora está mais "fluida".

Outros países

No Chile e Uruguai, por outro lado, o desempenho foi positivo. No primeiro, o consumo de carne bovina não chegou a ser tão afetado pela pandemia. Já o Uruguai foi o destaque da Operação América do Sul. "Tivemos um trimestre recorde em abates, produção e exportações. É um país que não sofreu tanto com logística e conseguimos aumentar o share de participação no mercado interno e nas exportações", disse.

As exportações da empresa na América do Sul continuaram tendo como principal destino a China e Hong Kong, responsáveis por 61% das vendas internacionais. Os embarques representaram cerca de 57,7% da receita total do trimestre da região. Apesar do grande volume enviado ao país asiático, os sinais de recuperação do rebanho de suínos chinês não chamam muita atenção da Marfrig, conforme o CEO. Isso porque a empresa espera um cenário de continuidade no crescimento do consumo de carne bovina entre os chineses, independentemente da situação com os suínos.

"Já estávamos vendo esse movimento em 2019 quando o país entrou na crise por causa da peste suína africana. E curiosamente vivemos um momento em que os preços da carne bovina vendida aos chineses estão ainda maiores que o recorde visto em dezembro de 2019."

O único ponto de atenção, segundo ele, é a mudança da comemoração do Ano Novo Lunar chinês no próximo ano, do fim de fevereiro para o início do mês, o que deve fazer com que o processo de aceleração de compras chinesas ocorra cerca de 26 dias antes do que o esperado aqui no Brasil.

Contato: julliana.martins@estadao.com
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