Política
02/09/2022 19:19

Eleições 2022/Entrevista/Amcham: Setor empresarial quer fortalecimento da agenda ambiental


Por Ana Paula Grabois

São Paulo, 02/09/2022 - O vice-presidente executivo da Câmara de Comércio Americana (Amcham) Brasil, Abrão Neto, avaliou, em entrevista ao Broadcast Político que a nova agenda climática, centro da política do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, precisa ser fortalecida pelo próximo presidente no Brasil. Segundo ele, a pauta "ganhou o centro da agenda empresarial".


Abrão também vê o tema da reestruturação produtiva global como algo relevante para o próximo governante diante da liderança dos Estados Unidos nessa nova organização das cadeias de fornecimento do mundo. Os EUA são o maior investidor externo e o segundo maior parceiro comercial do Brasil.

Leia os principais trechos da entrevista:

Broadcast Político - Como o senhor vê o ambiente de negócios no Brasil entre as empresas associadas à Amcham no atual contexto eleitoral?
Abrão Neto -
A Amcham tem 4 mil empresas associadas de diferentes portes econômicos, de diferentes setores da economia e praticamente do Brasil todo. Temos uma diversidade muito grande de interesses, opiniões e avaliação de cenário, um elemento muito saudável do ambiente empresarial que a Amcham representa. Existe uma expectativa muito grande sobre as eleições e sobre o planejamento dos próximos anos em relação ao Brasil. Temos sido provocados pelas empresas, como uma entidade representativa e multissetorial, a contribuir numa discussão de conteúdo. Nosso papel é estimular a discussão sobre as propostas importantes e necessárias para o crescimento socioeconômico do Brasil. Há um interesse muito grande em querer entender melhor, com mais profundidade, o que as diferentes candidaturas têm a apresentar, sobretudo no campo econômico, o que mais interessa ao setor empresarial. Temas muito importantes nessa discussão e para o ambiente de negócios em geral são as reformas para melhorar a forma como as empresas atuam no Brasil e se relacionam com o mercado brasileiro e com o mercado externo.

Broadcast Político - O senhor fala da Reforma Tributária?
Abrão -
Sim, existe ainda muita discussão sobre qual é a reforma que precisa ser feita, mas existe um consenso de que é fundamental fazer uma reforma tributária, simplificar, racionalizar o sistema tributário brasileiro.

Broadcast Político - A proposta é comum aos candidatos. O senhor vê diferenças?
Abrão -
Sim, talvez a priorização que se dê é que ainda existe uma discussão. Alguns candidatos são mais claros sobre qual é a prioridade, em qual momento fazer a reforma e como aproveitar as discussões que já existem no Congresso brasileiro. Nem todos os candidatos têm aprofundado.

Broadcast Político - Qual outro tema de interesse que o senhor percebe entre os executivos das empresas?
Abrão -
A discussão sobre sustentabilidade ganhou o centro da agenda empresarial. Hoje, existe cada vez mais uma avaliação de que tratar da sustentabilidade é tratar da competitividade empresarial. É um tema que se associou muito à agenda econômica e há um reconhecimento de que é importante tratar de temas ambientais, sociais, não só pela forma como esse tema gera engajamento, mas, sobretudo, como isso diretamente gera impacto sobre a prosperidade, o sucesso do negócio, das empresas. No nosso caso, a agenda internacional tem uma importância muito grande. As empresas têm perfil internacionalizado ou de empresas estrangeiras que estão no Brasil ou de empresas brasileiras que veem o mercado externo como parte importante dos seus negócios. E nesse contexto, em particular, a relação Brasil-Estados Unidos, pois os Estados Unidos são o principal investidor estrangeiro no Brasil e o segundo maior parceiro comercial.

Broadcast Político - A ideia é aumentar as relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos? Seja bilateralmente ou em acordos multilaterais?
Abrão -
Com certeza. De forma geral, é a inserção maior do Brasil na economia internacional. Principalmente agora, quando o cenário internacional está em uma transformação muito profunda que pode abrir oportunidades para uma projeção maior do Brasil. Outro assunto, transversal dentro das empresas, é a transformação digital. Existe uma preocupação em como fazer com que o nosso ambiente de inserção digital e a preparação do capital humano para os desafios de uma nova economia podem ajudar a levar as empresas a uma nova realidade, com treinamento, educação e ambiente regulatório favorável.

Broadcast Político - Dos representantes das candidaturas que vieram à Amcham, qual avaliação que o senhor faz do que ouviu?
Abrão -
Temos estabelecido diálogo com as principais candidaturas. O diálogo com o governo é constante porque tem relacionamento com todas as pautas que estamos conversando. Conversamos com representantes do atual governo e tivemos representantes das candidaturas do PT, do PDT e MDB. Todas as discussões foram muito objetivas em relação a esses pontos, o que pensam sobre comércio internacional, reformas econômicas e meio ambiente.

Broadcast Político - Com a mudança de governo nos Estados Unidos, a agenda das mudanças climáticas passou a ter uma importância muito relevante. Há programas e incentivos do governo americano voltados à economia verde, com apoio ao setor privado. Isso afeta as empresas ligadas às Amcham? O tema ambiental ganhou peso entre as empresas?
Abrão -
Com certeza. O tema ambiental, às vezes, era tratado como um tema em si mesmo, um tema estanque. Nessa nova administração dos Estados Unidos, é um tema transversal a todas as áreas do governo.

Broadcast Político - Tornou-se um tema econômico?
Abrão -
Sim e influencia todos os demais temas. A avaliação da importância do meio ambiente, da discussão sobre mudanças climáticas, reflete, em geral, o que o setor empresarial quer. Por exemplo, no ano passado, fizemos uma iniciativa para tentar captar o que as empresas associadas faziam na área de preservação ambiental no Brasil em um espaço de tempo curtíssimo. E coincidiu com a Cúpula do Clima, que o Biden convocou o ano passado, no primeiro semestre, e que foi uma preparatória para a COP-26. Foram mais de 100 projetos de diferentes empresas brasileiras, americanas, multinacionais de outras origens. Todas com movimentos muito interessantes de preservação ambiental, redução de consumo energético, redução de emissões de carbono, ações de educação ambiental, de reciclagem, de circularidade. Já se percebe há muito tempo, mas agora com um impulso muito maior, o engajamento do setor empresarial na pauta ambiental. É claro, quando a principal economia do mundo lidera uma agenda e coloca isso como prioridade, isso transborda para o mundo todo.

Broadcast Político - A agenda ambiental se tornou muito mais importante para as empresas da Amcham a partir do governo Biden?
Abrão -
Claro. E vem acompanhada de uma agenda, uma discussão mais ampla, a reorganização produtiva global. Parece um tema um pouco abstrato, mas que de fato tem acontecido. Há uma preocupação grande de governos e empresas em fazer com que suas cadeias tenham mais segurança e exposição menor a riscos climáticos, comerciais, geopolíticos e sanitários. É um movimento que tem acontecido e não é de curto prazo, é uma alteração mais profunda, mais estruturante, e que puxa a agenda climática. Porque um dos riscos é o climático. É uma agenda geopolítica e que acaba sendo uma agenda econômica.

Broadcast Político - O senhor vê a necessidade de novos acordos voltados para essa reestruturação produtiva?
Abrão -
No mês passado, os Estados Unidos convocaram uma cúpula ministerial sobre cadeias de fornecimento com um grupo de cerca de 20 parceiros, entre eles o Brasil, para discutir como essas economias se coordenam para criar um ambiente mais seguro de cadeias de fornecimento. Parte disso é um movimento de tentar atrair de volta, de aumentar a produção, ou de fechar acordos com outros países parceiros. É uma agenda geopolítica e que vem com a agenda climática, com a agenda sanitária.

Contato: ana.grabois@estadao.com

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